"É uma das epidemias mais assustadoras com que nos confrontámos", disse o diretor-geral adjunto da OMS, Keiji Fukuda, numa conferência de imprensa em Genebra, na Suíça.
Keiji Fukuda adiantou que a propagação da epidemia, que eclodiu no sul da Guiné, pode estar a alargar-se à capital, Conacri, e ao país vizinho, Libéria, o que é particularmente preocupante. "Não tivemos até agora uma epidemia de ébola nesta parte da África", mas a OMS já enviou equipas de ajuda humanitária para o local, disse Fukuda. "Este tipo de epidemia é frequentemente associada a muito medo e ansiedade", sublinhou.
De acordo com os últimos dados divulgados hoje pela OMS, há 157 casos de ébola registados só na Guiné, dos quais 101 resultarem em mortes. A OMS adianta que 67 casos foram confirmados por análises laboratoriais
Vinte casos foram registados na cidade portuária Conacri, e 21 casos na Libéria, dos quais dez pessoas morreram. Foram também registados casos na Serra Leoa, em que se suspeita que as pessoas tenham contraído a doença na Guiné.
No Mali, há nove casos suspeitos, mas dois testes revelaram-se negativos. "Não devemos dar demasiada importância aos números", recomendou Stéphane Hugonnet, um médico especialista da OMS, que regressou recentemente da Guiné.
"O mais importante é a tendência e a propagação da infeção. Aparentemente, há um risco de outros países estarem a ser infetados. Portanto, devemos permanecer vigilantes a todo custo", sublinhou o médico.
O vírus foi detetado pela primeira vez em 1976 em dois surtos simultâneos no Sudão e na República Democrática do Congo.
Desde 1976, o Ébola causou a morte de pelo menos 1.200 pessoas, dos 1.850 casos detetados. Os surtos mais fortes registaram-se na República Democrática do Congo, em 1976 (318 casos), 1995 (315 casos) e 2007 (264 casos), no Sudão, em 1976 (284), e no Uganda, em 2000 (425 casos).
Os surtos surgem normalmente em aldeias remotas da África central e ocidental, junto a florestas tropicais, pode ler-se no sítio da OMS na Internet. Neste momento, o vírus, que tem cinco estirpes distintas, só existe no continente africano, mas já houve casos nas Filipinas e na China.
Para evitar o contágio humano, a OMS recomenda evitar o contacto com morcegos e macacos e o consumo da sua carne crua, assim como evitar o contacto físico com pacientes infetados, em particular com os seus fluidos corporais.
Os profissionais de saúde estão em risco acrescido, sobretudo porque os sintomas iniciais são pouco específicos e podem ser associados a outras doenças, como a malária.
Após uma eventual infeção, pouco se pode fazer, já que não há vacinas nem tratamentos, restando apenas a hidratação do doente com soluções com eletrólitos ou a administração intravenosa de fluidos.
Lusa