Orçamento do Estado 2017

Esquerda acusa CFP de fazer considerações políticas e não técnicas

Os partidos da esquerda acusaram esta quinta-feira o CFP de fazer considerações políticas e ideológicas e não apenas uma abordagem técnica à proposta de orçamento de 2017, tendo o PCP optado por não fazer perguntas por não reconhecer credibilidade ao órgão.

Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas (CFP).
Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas (CFP).
TIAGO PETINGA / LUSA

A presidente do Conselho de Finanças Públicas (CFP), Teodora Cardoso, e a sua equipa estão esta quinta-feira a ser ouvidos na Assembleia da República no âmbito da discussão na especialidade da proposta de Orçamento do Estado para 2017 (OE2017) apresentada pelo Governo.

Tanto o PS, pela voz do deputado João Galamba, como o Bloco de Esquerda, nas palavras da deputada Mariana Mortágua, criticaram o parecer do CFP, lamentando o primeiro que o documento inclua "um statement político" e a segunda defendendo que "o papel do CFP é fazer uma avaliação mais técnica e menos ideológica" dos documentos orçamentais.

"É um parecer sobre o OE 2017, mas o CFP resolve começar com um statement político sobre a natureza da crise. Estive a ler o mandato do CFP, os pareceres de anos passados do CFP e pareceres de outros países e ninguém faz isto", disse João Galamba, manifestando a sua "estranheza".

O deputado socialista disse ainda não perceber por que razão o CFP conclui que "o OE2017 fica aquém do necessário", até porque tanto o CFP como a Comissão Europeia se pronunciam sobre as mesmas regras e procedimentos e "o CFP diz que o orçamento fica aquém" enquanto Bruxelas "considera que está tudo bem".

A presidente do CFP esclareceu que a sua equipa se pronunciou "não sobre a interpretação da crise europeia, mas sobre a interpretação da crise portuguesa, que é uma coisa bastante diferente", uma vez que a crise em Portugal "foi antecedida de um período em que a economia não cresceu".

Para Teodora Cardoso, "a política orçamental e a consolidação orçamental não conseguirão ter lugar se não forem enquadradas num programa" económico de médio prazo, acrescentando que "é por isso que o CFP afirma que o OE2017 fica aquém do necessário".

A economista disse ainda que "o Programa Nacional de Reformas é um grande conjunto de medidas", mas defendeu que "falta ter uma lógica e uma coerência que dê substância e compreensão do que efetivamente essas medidas vão garantir", e que falta também uma avaliação destas medidas à posteriori.

Também a bloquista Mariana Mortágua afirmou que "o papel do CFP é fazer uma avaliação mais técnica e menos ideológica", apresentando os relatórios da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) como boas abordagens técnicas.

A deputada questionou ainda sobre se "faz algum sentido cumprir a regra do défice que diz que quanto mais baixas forem as perspetivas de crescimento futuro maior é o ajustamento estrutural necessário", referindo-se ao saldo estrutural (que exclui os efeitos do ciclo económico e as medidas temporárias) e ao PIB potencial (o crescimento económico que ocorreria na utilização plena dos recursos disponíveis).

Na resposta, Teodora Cardoso disse que Portugal precisa de "não ver necessariamente a consolidação orçamental como inimiga do crescimento e os défices orçamentais como a saída para o crescimento", sublinhando que a própria experiência portuguesa "já provou que esse não é o caso".

Quanto à discussão em torno do produto potencial, a presidente do CFP concordou com a deputada do BE e disse que se trata de facto um conceito que "não é observável", mas reiterou que "há regras que permitem discuti-lo e essas regras foram também discutidas por Portugal".

Para Teodora Cardoso, "Portugal tem de ser capaz de oferecer alternativas para este conceito", considerando que "não se pode é apenas dizer que estas regras não funcionam".

O PCP, por seu lado, reiterou a sua oposição à existência do CFP, considerando o deputado Paulo Sá que "os seus relatórios são ideologicamente posicionados" e que "defendem ativamente uma linha política que agravou a exploração dos trabalhadores, que reduziu rendimentos, que atacou serviços públicos e que vendia ao desbarato empresas públicas estratégicas".

Lamentando que a instituição liderada por Teodora Cardoso se coloque "de forma clara e inequívoca ao lado dos que defendem o regresso ao passado", Paulo Sá disse que o seu partido "não reconhece independência nem isenção" ao CFP, concluindo que o PCP "não vê qualquer vantagem" na existência deste órgão e não colocando perguntas.

Sem questões formuladas, a presidente do CFP não fez qualquer comentário a esta intervenção do deputado do PCP Paulo Sá.

Lusa