Um estudo financiado pela NASA mostra que a permanência no espaço acelera o envelhecimento das células estaminais que produzem o sangue e sustentam o sistema imunitário.
A investigação, realizada com amostras enviadas em missões da SpaceX, detetou danos no ADN, sinais de inflamação e alterações genéticas. Os cientistas sublinham que compreender estes efeitos pode ser crucial para proteger astronautas em missões longas e até ajudar a estudar o envelhecimento na Terra.
Células com envelhecimento acelerado
As amostras analisadas foram enviadas em quatro missões de reabastecimento da SpaceX para a Estação Espacial Internacional, entre 2021 e 2023. Durante 30 a 45 dias, os investigadores monitorizaram em tempo real células retiradas da medula óssea de dadores e compararam-nas com outras que permaneceram na Terra.
Os resultados mostraram que, em órbita, as células perderam parte da capacidade de formar novas células saudáveis, ficaram mais vulneráveis a danos no ADN e revelaram sinais de envelhecimento acelerado nas extremidades dos cromossomas. As alterações foram atribuídas à microgravidade e à maior exposição à radiação espacial.
Impactos no corpo humano
As chamadas células estaminais hematopoiéticas, presentes na medula óssea, dão origem a glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Quando sofrem alterações, o organismo pode perder capacidade de regenerar tecidos, de combater infeções ou de vigiar o aparecimento de células cancerígenas.
Segundo os investigadores, durante o voo espacial estas células tornaram-se hiperativas, esgotando rapidamente as reservas necessárias para regeneração a longo prazo. Apresentaram ainda sinais de inflamação, stress nas mitocôndrias - as "fábricas de energia" das células - e ativaram partes do genoma normalmente inativas.
Os investigadores detetaram diferenças na resposta das células estaminais às viagens espaciais dependendo do dador.
“A capacidade regenerativa das células estaminais diminuiu, mas com alguma variabilidade entre os dadores, sugerindo que fatores de resiliência anti-envelhecimento são ativados em alguns indivíduos e noutros não”, explicou Catriona Jamieson, professora de medicina na Universidade da Califórnia em San Diego e autora sénior do estudo, publicado narevista Cell Stem Cell.
Esta diferença sugere que algumas pessoas poderão ser mais vulneráveis do que outras aos efeitos do espaço na regeneração celular.
Importância para as missões espaciais e para a Terra
O corpo humano evoluiu durante milhões de anos para viver nas condições da Terra - gravidade, atmosfera e baixos níveis de radiação. No espaço, a exposição à radiação cósmica e a ausência de gravidade podem provocar perda de massa óssea, atrofia muscular e maior risco de cancro ou doenças cardiovasculares.
Para Jamieson, conhecer melhor estas alterações “pode ajudar a proteger astronautas em missões de longa duração e também a modelar o envelhecimento humano e doenças como o cancro aqui na Terra”.
A investigação científica avança para proteger os viajantes espaciais, mas como explicou à Reuters Chris Mason, professor de fisiologia e biofísica na Weill Cornell Medicine, em Nova Iorque, é necessário reunir mais dados sobre astronautas de diferentes perfis de saúde e tipos de missão para desenvolver estratégias personalizadas de mitigação de riscos.

Com Reuters