Cultura

Endometriose: que doença é esta que obrigou Anitta a parar

Cantora está internada, num hospital em São Paulo.

Endometriose: que doença é esta que obrigou Anitta a parar

A cantora brasileira Anitta está internada para ser operada à endometriose, em São Paulo, no Brasil. O anúncio da cirurgia foi feito depois de encerrar a digressão em Portugal, no festival Meo Marés Vivas. A SIC Notícias ajuda-o a perceber melhor a doença crónica que afeta mulheres em idade reprodutiva.

Catorze concertos. 20 países diferentes. Dois videoclipes. Assim foi o último mês de Anitta. Agora, a artista vai fazer uma pausa dos palcos e dar prioridade à saúde. A cirurgia já estava marcada antes do início da digressão.

A cantora encerrou a "tour" pela Europa em Portugal, no domingo, no Meo Marés Vivas, em Vila Nova de Gaia, naquele diz que ser o "seu lugar preferido".

"Eu vim do tour direto para o hospital para começar os preparativos para uma cirurgia que eu vou fazer assim que meu corpo estiver pronto para isso", escreveu numa publicação acompanhada por uma fotografia na cama do hospital.

Já nos dias anteriores a artista tinha repartilhado uma foto acompanhada pelo namorado, o artista canadiano Murda Beatz. Na mesma rede social, a cantora disse que o pré-operatório está a ser "um sofrimento".

No dia anterior, Anitta tinha confessado sentir-se exausta. Revelou mesmo que chegou a chorar "de desespero no chuveiro escondida de tanto cansaço".

"Nunca mais repito isso na vida porque realmente nada no mundo vale a nossa saúde ser levada a exaustão assim", escreveu a artista, no Twitter, na segunda-feira.

No entanto, Anitta acrescenta que está grata pelas "milhões de pessoas" que conheceu: "Na verdade, foram vocês que me fizeram ficar forte até o fim".

Em Portugal, a endometriose afeta uma em cada 10 mulheres em idade fértil. Muitas vezes é conhecida como a "doença oculta" ou a "doença silenciosa", porque pode demorar anos até ser identificada.

O que é a endometriose?

"Quando definimos a doença quer dizer, em termos simples, que o tecido que reveste o interior do útero e que normalmente origina a menstruação, que se designa por endométrio, se localiza noutros sítios que não aquele que é o habitual, que é dentro do útero. Vamos ter tecido nos ovários, junto ao intestino, entre a vagina e o intestino, todas as zonas que estão à volta dos órgãos pélvicos e genitais podem ser afetadas, quer o sistema urinário, gastro intestinal ou noutros órgãos à distância. Pode haver endometriose que se localiza no diafragma, pode haver endometriose cerebral, pode haver lesões da endometriose em quase todo o lado", explicou a médica Margarida Martinho, especialista em Ginecologia e Obstetrícia e secretária-geral da Sociedade Portuguesa de Ginecologia.

A ginecologista do Hospital de São João, no Porto, explica que a pessoa com endometriose vai ter o equivalente a uma menstruação nas zonas com lesões de endometriose: "Isso normalmente associa-se a um mal-estar, dor e inflamação".

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DIAGNÓSTICO TARDIO. PORQUÊ?

O diagnóstico tardio é apontado por doentes e pacientes. À SIC Notícias, Margarida Martinho explicou que as técnicas de diagnóstico foram "melhorando bastante" ao longo dos anos. No entanto, referiu que a demora no diagnóstico acontecia por vários fatores: em conversas com a mãe e as amigas, "era incutida a ideia de que as dores menstruais são normais" e, muitas vezes, os médicos estavam menos alerta para a doença.

"As mulheres sofriam muitas vezes em silêncio", afirmou, e acrescentou: "mesmo junto do médico, muitas não referenciavam as dores porque interiorizavam que tinham de aceitar essas dores".

Quando é que uma mulher deve ficar alerta?

Margarida Martinho explicou que deve ficar alerta quando "a dor menstrual excede aquilo que é o desconforto ou dor habitualmente referida pela maioria das mulheres" durante a menstruação. É o caso de dores intensas que impeçam as suas atividades de vida diária, como ir trabalhar, socializar e que interfiram, de forma significativa, com a sua vida sexual. Tem as dores menstruais, mas além disso, a dor menstrual associa-se a outros sintomas e dores".

E exemplifica:

"Além das dores menstruais, tem também dores com as relações sexuais, dores relacionadas com o funcionamento intestinal e urinário, assim como passa a ter dores ao longo do ciclo menstrual e não apenas durante a menstruação".

As causas e os tratamentos

Sobre as causas da endometriose, Margarida Martinho considerou difícil responder porque não há uma causa.

"A fisiopatologia da endometriose é algo muito complexo", disse.

No entanto, acredita que os próximos tempos vão ser de avanços na investigação em medicina.

A especialista citou um livro de Fátima Faustino, coordenadora da Unidade de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Lusíadas e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, para enumerar algumas causas.

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Quanto aos tratamentos, a ginecologista aponta duas abordagens:

  • A terapêutica médica e hormonal, que é a primeira opção terapêutica a ser usada e que quando resulta deve ser mantida. Esta opção é especialmente adequada para mulheres que não pretendem uma gravidez. Antes de instituir um tratamento o mais importante é ouvir as mulheres, questioná-las quanto os sintomas e ao seu desejo de uma gravidez e para quando planeiam concretizá-lo, assim como explicar-lhes as opções terapêuticas e estabelecer com elas um plano. Sempre que a mulher melhora significativamente com o tratamento médico não há razão para procurar outros tratamentos nomeadamente o cirúrgico, explica a Dra. Margarida Martinho à SIC Notícias.

  • O tratamento cirúrgico, deve ser considerado quando os sintomas não são controlados com o tratamento médico e nas situações em que este tem que ser suspenso porque a mulher vai tentar uma gravidez e esta não acontece espontaneamente. Nas mulheres que pretendam uma gravidez o tratamento cirúrgico deve ser planeado o mais próximo da altura em que a mulher pretenda tentar a gravidez. O tratamento cirúrgico também deve ser uma opção nas situações em que há um risco de oclusão intestinal porque a doença condiciona uma estenose intestinal ou uma obstrução das vias urinárias que comprometa a função do rim.
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A endometriose e a infertilidade

Sobre a relação entre a doença e a infertilidade, a médica Margarida Martinho, explicou que, no contexto da endometriose, "os motivos para a infertilidade são vários" e realçou que a endometriose provoca alterações da anatomia pélvica e nas trompas, que muitas vezes ficam obstruídas. Mas há outros fatores a considerar e mais complexos, nomeadamente nas situações em que a endometriose não se associa a alterações anatómicas dos ovários e trompas.

"A endometriose não é igual à impossibilidade de ter filhos. Há sempre formas de tentar ultrapassar a infertilidade", realçou, acrescentando que durante a gravidez as mulheres com endometriose conseguem ter, habitualmente, "um período de melhoria da sua qualidade de vida".

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