Eis um filme centenário (+ um ano): Foi, de facto, em 1921, que Charlie Chaplin (1889-1997) lançou "The Kid" — entre nós estreado como "O Garoto de Charlot" —, título fundamental, não apenas para a sua crescente popularidade, mas também no seu processo de amadurecimento artístico.
Até essa altura, Chaplin tinha-se ficado pelos modelos correntes de filmes de duas ou três bobines, com uma duração que raras vezes ultrapassava os 30 minutos. "The Kid" era mais ambicioso, tendo sido mesmo promovido com a frase: "Seis bobines de alegria". É certo que alguns cineastas, com destaque para David W. Griffith, já tinham assinado obras muito mais longas (em 1916, o épico "Intolerância" superava as três horas de duração), mas a norma continuava a ser as histórias de "curta" duração.
Em qualquer caso, o que mais conta é, obviamente, a depurada dramaturgia de Chaplin, a par da evolução da personagem emblemática do "Vagabundo". Desta vez, ele está longe de ser um simples instrumento do humor, já que "The Kid" conjuga as situações de riso aberto com um pano de fundo carregado de perturbantes emoções. Esta é, afinal, a história de uma criança que o "Vagabundo" acolhe depois de ter sido abandonada pela mãe — um gesto de compaixão que vai desencadear muitas atribulações familiares e legais…
Chaplin foi sempre um metódico humanista, o que, além do mais, se reflecte em todo o trabalho de interpretação. Neste caso, com um singularíssimo contributo: a composição do "garoto" pelo lendário Jackie Coogan (1914-1984) que completou a rodagem ainda com seis anos de idade. Coogan viria a ter um papel decisivo na implementação de legislação para proteger os direitos das crianças/actores. Para lá do filme de Chaplin, a sua popularidade ficou também muito ligada à série televisiva "A Família Addams (1964-66), um clássico da comédia negra em que assumiu a personagem do "Tio Fester".
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