João Lopes

Comentador SIC Notícias

Cultura

Nos 70 anos de “The Band Wagon”

Faz hoje 70 anos que foi lançado um dos clássicos absolutos do musical de Hollywood — nem sempre devidamente lembrado…

Cyd Charisse e Fred Astaire: glórias do cinema musical, em 1953
Cyd Charisse e Fred Astaire: glórias do cinema musical, em 1953

Uma das consequências práticas da história contada através dos seus momentos mais “heróicos” é a simplificação abusiva… da própria história. História do cinema, por exemplo. Ou ainda: história do género musical no cinema.

Exemplo? Todos conhecemos, e celebramos, a gloriosa idade clássica dos musicais de Hollywood, em particular através das produções da Metro Goldwyn Mayer geridas pelo grande Arthur Freed (1894-1973). Ao mesmo tempo, as nossas memórias dependem frequentemente de uma visão estreita, distinguindo meia dúzia de referências emblemáticas e omitindo muitas outras, pelo menos igualmente pertinentes.

Ora, precisamente, no começo da década de 50, Freed foi decisivo na gestação de dois musicais lendários: “Um Americano em Paris” (1951), de Vincente Minnelli, e “Serenata à Chuva” (1952), de Stanley Donen e Gene Kelly, o primeiro consagrado com seis Óscares, incluindo o de melhor filme do ano. E que dizer do que aconteceu logo a seguir? Pois bem, foi a 7 de agosto de 1953 — faz hoje 70 anos! — que, de novo com assinatura de Minnelli, surgiu “The Band Wagon”, entre nós “A Roda da Fortuna”, outra obra-prima da MGM, com Fred Astaire e Cy Charisse nos papéis principais.

Momentos como “Shine on Your Shoes” ou “That’s Entertainment” (este com uma canção que se tornaria um emblema do próprio espectáculo musical) são proezas excepcionais da “idade de ouro” de um género que, como é óbvio, começara a definir as suas coordenadas espectaculares com o advento dos filmes sonoros. Sem esquecer, claro, o belíssimo “Dancer in the Dark”, dançado por Astaire/Charisse, porventura um dos números mais perfeitos de toda a história do musical [video].

“The Band Wagon” foi nomeado para três Óscares, nas categorias de argumento, música e guarda-roupa. Não ganhou qualquer estatueta dourada, mas não deixa de ocupar um lugar central no património de um género que, a partir de finais da década de 50, se tornaria cada vez menos frequente, quer na MGM, quer na produção dos outros estúdios de Hollywood — 70 anos depois, há nele uma frescura criativa e uma energia espectacular que os tempos não anularam.