João Lopes

Comentador SIC Notícias

Cultura

O regresso às salas de cinema?

Em Portugal e por todo o mundo, “Barbie” e “Oppenheimer” são dois sucessos surpreendentes — mas será que isso basta para revitalizar o mercado?

Bradley Cooper, actor e realizador em "Maestro"
Bradley Cooper, actor e realizador em "Maestro"

Será que o impacto de "Barbie" e "Opppenheimer" significa que há um efectivo regresso dos espectadores às salas de cinema? A resposta parece ser claramente afirmativa, mas talvez seja prudente formulá-la de modo algo paradoxal.

A saber: sim, é verdade que, seja qual for o nosso juízo de valor sobre cada um deles, os dois filmes protagonizam um fenómeno invulgar de mobilização de públicos nos contextos mais diversos — no mercado português, mais de 800 mil espectadores para "Barbie" e mais de meio milhão para "Oppenheimer" é mesmo qualquer coisa de impressionante.

Ao mesmo tempo, não é menos verdade que não nos podemos iludir com as especificidades do fenómeno. De facto, não será possível encontrar regularmente dois filmes capazes de suscitar todo um movimento de expectativas (e promoções) como estes conseguiram — será preciso continuar a trabalhar, e a trabalhar de forma criativa, nas formas de difusão.

Uma coisa é certa: a oposição entre salas e plataformas de streaming está a relativizar-se e, de algum modo, a ganhar alguma sensatez. É certo que, por exemplo, em alguns países (incluindo Portugal), o novo título de Pablo Larraín, "O Conde", surgiu directamente na Netflix, sem passar nas salas, isto apesar de ter sido premiado em Veneza. Mas a mesma Netflix irá lançar "Maestro", de Bradley Cooper, nas salas, antes de o programar para consumo caseiro. O mesmo acontecerá, aliás, com "Killers of the Flower Moon" [trailer] , de Martin Scorsese, a cuja produção está associada outra plataforma, a AppleTV+.

São sinais dispersos, certamente ambivalentes, que geram, ainda assim, um sintoma de esperança: como se prova, não se trata de escolher as plataformas "contra" as salas (ou o inverso), mas de ir encontrando formas de interacção entre uma via e outra. Sem esquecer uma certeza: não faz sentido proclamar que "as pessoas desistiram de sair de casa para ir ao cinema"… Se outras razões não houvesse, "Barbie" e "Oppenheimer" ficariam na história por demonstrarem que nada é tão esquemático — nem definitivo.