João Lopes

Comentador SIC Notícias

Cultura

Sessão de Cinema: “A Incrível História de Henry Sugar”

O americano Wes Anderson continua seduzido pela escrita de Roald Dahl: agora, adaptou quatro dos seus contos (o primeiro já disponível) para uma plataforma de streaming.

Benedict Cumberbatch no papel de Henry Sugar: o cinema reencena o mundo imaginado por Roald Dahl
Benedict Cumberbatch no papel de Henry Sugar: o cinema reencena o mundo imaginado por Roald Dahl

Com cenários que parecem retirados de um primitivo jogo de construção para crianças e as suas histórias a meio caminho entre a comédia do absurdo e a fábula moral, o cinema do americano Wes Anderson chegou a um ponto de sofisticado controle. Para alguns (entre os quais me incluo), os resultados estão marcados por um formalismo cada vez mais susceptível de se encerrar num exercício com o seu quê de gratuito. Ao mesmo tempo, importa não simplificar: nada isso invalida o reconhecimento de Anderson como alguém que possui um entendimento muito particular das possibilidades técnicas e formais do próprio cinema, sabendo manter-se fiel aos peculiares valores desse entendimento.

Além do mais, Anderson não tem preconceitos em trabalhar em variados modos de produção, incluindo, como agora acontece, realizando uma série de curtas-metragens para estreia directa na Netflix. São quatro filmes inspirados em obras do britânico Roald Dahl (1916-1990): a primeira, já disponível, chama-se "A Incrível História de Henry Sugar" e tem como base "The Wonderful Story of Henry Sugar", incluída numa colectânea publicada em 1977. Isto sem esquecer que Anderson já se inspirara em Dahl para realizar a longa-metragem "O Fantástico Senhor Raposo" (2009).

Em termos simples, esta é a história de um guru indiano que desenvolveu a capacidade de… ver com os olhos vendados. Interessado no fenómeno, um homem muito rico tenta apropriar-se dessa faculdade, com o objectivo de ganhar muito dinheiro, em casinos, com jogos de cartas…

Anderson encena tudo isso em cenários assumidamente teatrais, ao mesmo tempo que brinca com o facto de as personagens serem, ao mesmo tempo (por vezes na mesma fala), figuras e narradores da história que estão a viver. O resultado tem qualquer coisa de teatro de marionetas, paradoxalmente servido pelo requinte de um invulgar conjunto de actores — assim, no elenco, encontramos, entre outros, Benedict Cumberbatch, Ralph Fiennes, Ben Kingsley e Dev Patel.

Fica uma curiosa dúvida por esclarecer: será que uma curta-metragem produzida por (e para) uma plataforma de streaming poderá ganhar evidência na próxima temporada de prémios, incluindo os Óscares da Academia de Hollywood?

Netflix