Cultura

Sessão de Cinema: “O Irlandês”

Agora que está a quase a estrear-se um novo filme de Martin Scorsese, eis uma boa motivação para (re)descobrirmos o seu filme anterior: “O Irlandês” é uma perturbante viagem pelos bastidores do crime organizado.

Robert De Niro, Al Pacino e Ray Romano: uma tragédia americana
Robert De Niro, Al Pacino e Ray Romano: uma tragédia americana

Com “Assassinos da Lua das Flores”, de Martin Scorsese, quase a chegar às salas de cinema, este é um bom momento para relembrarmos o seu filme anterior, “O Irlandês”, lançado em 2019. Com um sublinhado que constitui, por assim dizer, um sinal dos tempos: em ambos os casos, Scorsese trabalhou com financiamentos de plataformas de streaming: a AppleTV+ para o novo filme (juntamente com a Paramount); a Netflix em “O Irlandês”.

Tal como “Tudo Bons Rapazes” (1990) ou “The Departed - Entre Inimigos” (2006), “O Irlandês” desmonta os bastidores do crime organizado, dando especial destaque à figura de Jimmy Hoffa, líder sindical dos camionistas dos EUA envolvido em relações pouco recomendáveis com o mundo dos gangsters. Hoffa é interpretado por Al Pacino, com Robert De Niro a assumir a personagem de Frank Sheeran, um assassino contratado por Hoffa.

A vibração dramática do filme de Scorsese, em particular na encenação de um sistema de crescente violência, é tanto mais impressionante quanto as personagens principais surgem em épocas separadas por várias décadas, sempre com os mesmos actores. Dito de outro modo: “O Irlandês” aplica os mais modernos efeitos especiais para “rejuvenescer” os intérpretes (“de-aging”, segundo a designação técnica original), num processo gerido pela Industrial, Light & Magic, aempresa criada por George Lucas nos primeiros tempos de “Star Wars”.

Com um impressionante elenco — que inclui ainda, entre outros, Joe Pesci, Harvey Keitel, Ray Romano, Anna Paquin e Bobby Canavale —, “O Irlandês” é uma proeza tanto mais admirável quanto Scorsese não se mostra dependente dos clichés dos filmes de gangsters, antes construindo uma verdadeira tragédia “shakespereana”. Para a história, registe-se a ironia: dez nomeações para os Óscares, zero estatuetas douradas.

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