Cultura

Estúdios Disney: que significa fazer 100 anos?

Walt Disney e o seu irmão Roy fundaram a casa do Rato Mickey há um século — hoje em dia, a companhia é, inevitavelmente, bem diferente…

O clássico logotipo da Disney a comemorar 100 anos de filmes e "entertainment"
O clássico logotipo da Disney a comemorar 100 anos de filmes e "entertainment"

Foi no dia 16 de outubro de 1923 que os irmãos Walt Disney e Roy Disney fundaram uma das mais famosas companhias da história do cinema. Ou seja, faz hoje 100 anos que nasceram os estúdios Disney: mais exactamente, The Walt Disney Company, na origem com o nome de Disney Brothers Studio.

Por vezes, a evocação automática (historicamente incontornável, como é óbvio) dos grandes clássicos de animação do começo dos estúdios — incluindo "Branca de Neve e os Sete Anões" (1937), "Pinóquio" (1940) ou "Bambi" (1942) — pode levar a pensar que estamos perante uma empresa eternamente dedicada aos desenhados animados e, nessa medida, à mitologia de "Mickey e os amigos". Em boa verdade, há muito que a marca Disney se diversificou muito para lá dos modelos e das narrativas que Walt Disney criou e impulsionou. A última longa-metragem cuja produção ele ainda acompanhou foi "Mary Poppins", lançada em 1964 — Walt Disney viria a falecer cerca de dois anos mais tarde, a 15 de dezembro de 1966, contava 65 anos.

Basta ver o video oficial de celebração do centenário para reconhecermos que a "fábrica dos desenhos animados" há muito se transfigurou, a ponto de ter integrado (entenda-se: adquirido) marcas como a Pixar, os estúdios Marvel ou a Lucasfilm. Dito de outro modo: dos amigos aventureiros de "Toy Story" até aos descendentes de "Star Wars", passando pelos efeitos especiais de "Avatar", "Homem de Ferro" ou dos "Guardiões da Galáxia", tudo isso exibe a chancela Disney.


Nesta perspectiva, e tendo em conta as muitas ramificações dos produtos Disney — dos parques temáticos aos brinquedos, passando pelos programas de televisão ou a BD —, dir-se-ia que já não estamos perante um estúdio de cinema clássico, mas sim face a um conglomerado de produções e marketing que, com maior ou menor felicidade, ilustra um conceito de "entertainment" consolidado desde a viragem determinante iniciada com a gestão de Jeffrey Katzenberg; foi ele que lançou "A Pequena Sereia", em 1989, depois criando os gigantescos sucessos dos anos 90, incluindo "A Bela e o Monstro" e "O Rei Leão".

Para que não simplifiquemos as coordenadas de tudo isto, vale a pena recordar que títulos como "Tron" (Steven Lisberger, 1982), "A Cor do Dinheiro" (Martin Scorsese, 1986), "O Clube dos Poetas Mortos" (Peter Weir, 1989), "Dick Tracy" (Warren Beatty, 1990) ou "Lincoln" (Steven Spielberg, 2012) ostentam todos a marca Disney — são produções directas dos respectivos estúdios ou foram gerados através de outras empresas que integram o império Disney.

Há ainda outras maneiras de dizer tudo isto. Por exemplo, lembrando que na companhia trabalham mais de 200 mil pessoas e que a sua capitalização de mercado excede os 150 mil milhões de dólares (cerca de 142 mil milhões de euros). Ou ainda que os seus filmes já receberam 135 Óscares da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (26 dos quais para o próprio Walt Disney, ainda recordista absoluto nesse domínio).

Simplificando, podemos acrescentar apenas mais um exemplo. Assim, "Poor Things", o filme de Yorgos Lanthimos que, em setembro, arrebatou o Leão de Ouro de Veneza, deverá chegar aos ecrãs de todo o mundo nos próximos meses, certamente para conquistar lugares importantes na temporada de prémios. A sua empresa produtora foi a Searchlight Pictures, entidade de espírito independente que nasceu em 1994 no seio dos estúdios da 20th Century Fox (onde, em 1977, surgiu a saga "Star Wars"). Esses estúdios pertencem agora à Disney, já que a companhia adquiriu a 20th Century Fox (dando-lhe um novo nome: 20th Century Studios) em 2017. Custo total do negócio: 71,3 mil milhões de dólares (cerca de 67,5 mil milhões de euros).