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Memória de John Bailey

John Bailey foi o primeiro director de fotografia do cinema americano a assumir a presidência da Academia de Hollywood — mas convém não esquecer os filmes em que assinou as respectivas imagens…

John Bailey: um grande talento da direcção fotográfica no cinema de Hollywood
John Bailey: um grande talento da direcção fotográfica no cinema de Hollywood

Quase todas as notícias sobre a morte de John Bailey — falecido no dia 10 de novembro, em Los Angeles, contava 81 anos —, ainda que citando a sua carreira como director de fotografia, destacaram o período em que ele assumiu a presidência da Academia das Artes e Ciências Cinematográficas [AMPAS].

É, sem dúvida, um destaque que se justifica, já que esse período (2017-2019) foi particularmente rico, em decisões e movimentações, no sentido de aumentar o número de membros da Academia, diversificando também a sua representatividade. Além do mais, historicamente, Bailey foi o primeiro director de fotografia [“cinematographer”] a assumir tão importante cargo na estrutura do cinema “made in USA” — ironicamente, nos Óscares, nunca foi nomeado.

Seja como for, vale a pena alargar o âmbito da sua memória. Eis três simples razões: “American Gigolo” (1980), a parábola moral de Paul Schrader que transformou Richard Gere numa estrela; “Os Amigos de Alex” (1983), de Lawrence Kasdan, retrato íntimo das ilusões e desilusões de toda uma geração [video: genérico de abertura]; e “Na Linha de Fogo” (1993), o “thriller” de Wolfgang Petersen em que Clint Eastwood interpreta um dos elementos da segurança do presidente John Kennedy.

A direcção fotográfica destes três filmes seria suficiente para reconhecermos as invulgares qualidades do trabalho de Bailey — ele tinha essa capacidade de lidar com formas de iluminação especialmente complexas, sem nunca menosprezar a possível combinação com elementos da luz natural (e das respectivas cores).

A filmografia de dois dos cineastas citados — Schrader e Kasdan — está marcada por mais algumas notáveis colaborações com Bailey. Acrescentemos, por isso, os exemplos de “A Felina” (1982) e “Mishima” (1985), de Schrader, ou “Silverado” (1985) e “O Turista Acidental” (1988), de Kasdan. Isto sem esquecer os títulos em queesteve ao lado de cineastas como Robert Benton (“Vidas Simples”, 1994, com Paul Newman) ou James L. Brooks (“Melhor É Impossível”, 1997, com Jack Nichsolson).

Aqui fica um video com um exemplo modelar da sofisticação da visão, e da riqueza técnica, de Bailey — é a cena de “A Felina” em que, pela primeira vez, a personagem de Nastassja Kinski pressente a sua ligação com o mundo selvagem dos felinos (avisando os espectadores mais sensíveis de que se trata de uma cena de grande violência gráfica).