Cultura

Opinião

Sessão de Cinema: “O Conto dos Crisântemos Tardios”

Um filme para descobrirmos, ou reencontrarmos, o universo de um dos mestres absolutos do cinema japonês, Kenji Mizoguchi, neste caso através de uma história de amor vivida em finais do século XIX.

"O Conto dos Crisântemos Tardios" é um bom exemplo da riqueza e complexidade das personagens femininas na obra de Mizoguchi
"O Conto dos Crisântemos Tardios" é um bom exemplo da riqueza e complexidade das personagens femininas na obra de Mizoguchi

Surpreendentemente ou não, num mercado cinematográfico como o português, marcado por tantos desequilíbrios na oferta de títulos e também na sua distribuição pelas salas do país, a produção do Japão sempre teve uma presença regular — escassa, mas regular. Recentemente, por exemplo, a empresa The Stone and the Plot tem dado a conhecer “Mestres Japoneses Desconhecidos”; entretanto, a partir da próxima semana, a Leopardo Filmes vai assinalar os 120 anos do nascimento de Yasujiro Ozu com vários filmes, incluindo dois comercialmente inéditos entre nós.

Vale a pena, por isso, (re)valorizar também a oferta do streaming, neste caso destacando um título do mestre Kenji Mizoguchi (1898-1956), nome decisivo na internacionalização do cinema japonês, sobretudo a partir do impacto de “Contos da Lua Vaga” (1953), distinguido com um Leão de Prata no Festival de Veneza.

O filme em questão — “O Conto dos Crisântemos Tardios” (1939) — leva-nos a recuar a um tempo em que a criatividade de Mizoguchi, sem dúvida de forma pioneira, já integrara a novidade do som. Vogamos nos bastidores do teatro kabuki, em Tóquio, em finais do século XIX: a existência de um actor não muito dotado envolve a mulher que o protege, sacrificando-se em nome de um amor que está longe de ser correspondido…

Mizoguchi afirmava-se, assim, como um retratista infinitamente subtil das emoções mais secretas dos seres humanos, em particular através de complexas personagens femininas — e se é verdade que a sua visão envolve, naturalmente, muitos elementos de natureza histórica e cultural específicos do seu país, não é menos verdade que há nele um apelo universal que faz de “O Conto dos Crisântemos Tardios” uma obra-prima que há muito transcendeu todas as fronteiras.

Aqui fica uma breve apresentação do universo de Mizoguchi, num video produzido em 2014 pelo Museum of the Moving Image, em Nova Iorque.

Filmin