Também não é novidade para ninguém que, não obstante a enorme dificuldade que é gerir emoções num ambiente tão tenso e sufocante, há da parte de cada um deles a obrigação moral e a responsabilidade ética de darem o seu melhor e de procurarem a superação, até porque a montra onde atuam é enorme e tende a produzir, um pouco por todo o lado, várias réplicas das suas ações e condutas.
Não é fácil, é certo, mas para desempenhar funções a esse nível, é inevitável e necessário. Num contexto assim, todos erram e quem disser o contrário estará a faltar à verdade, mas por regra é fundamental manter um padrão de comportamento elogiável e de respeito. Só esse permitirá que todos os outros continuem a elogiar o mérito desportivo do profissional, não o descontrolo emocional do homem.
Relativamente à situação que ocorreu nos minutos finais do jogo da Supertaça, a recusa de um elemento do banco em abandonar a zona de jogo após ser expulso é algo que, não sendo novo, é pouco habitual no nosso contexto futebolístico.
É público que já aconteceu noutros momentos, noutras ligas e com outros protagonistas (nomeadamente com o atual treinador principal dos encarnados), como também é público que esse tipo de reações podem ter peso muito negativo no percurso desportivo do autor e respetivo clube.
Importa para este efeito esclarecer que a situação em si não está prevista nas leis de jogo, mas consta das "Normas e Instruções para Árbitros", cuja última versão foi atualizada na época 2018/19.
No Ponto 12 do Capítulo 5 desse manual (referente a "Ações Disciplinares"), podemos ler, a esse respeito, o seguinte:
- "No caso de qualquer elemento do banco técnico se recusar a abandonar a zona do terreno de jogo, deve o árbitro solicitar a ação dos restantes elementos do banco no sentido de fazer acatar a sua decisão. Se a ação referida no número anterior sair frustrada, o árbitro dará o jogo por terminado, não devendo neste caso pedir a intervenção da força policial".
Grosso modo, no caso de recusa após expulsão, as recomendações gerais são para que o árbitro tente que algum dos colegas do referido banco técnico tentem demover o autor da decisão, caso contrário será forçado a dar o jogo por concluído.
O que isto pressupõe, na prática, é que se tenha bom senso. Terminar um jogo por motivo desta natureza só pode acontecer quando forem esgotadas todas as vias diplomáticas para que o infrator reflita sobre as consequências pessoais e desportivas da sua decisão. E foi exatamente isso que Luís Godinho improvisou no último SL Benfica/FC Porto, perante momento tão atípico e inesperado:
- Primeiro falou com quem estava mais perto de si, por sinal o capitão de equipa dos azuis e brancos e, falhada a tentativa, deslocou-se pessoalmente até perto do banco técnico, para fazer o mesmo com o treinador em negação e com os elementos que estavam perto dele.
A opção correu bem, porque o técnico portista voltou atrás na opção e acabou por acatar a ordem de expulsão. Não foi necessário chegar àquele momento em que se lança a "bomba atómica", o que seria sempre péssimo para a prova, para o organizador e para o futebol português.
É cada vez mais importante que se aprenda a distinguir emocionalidade de irracionalidade. Num jogo de equipa ninguém está só e os atos e gestos de um representam todos.
Por muito que possam existir razões de queixa desportivas ou motivos legítimos para crítica, é fundamental que quem anda lá dentro seja capaz de controlar as suas emoções e tomar as atitudes que o desporto exige.
É um caminho, uma aprendizagem mas absolutamente necessária, até para defender a pessoa que mora no profissional.
Vale a pena pensar nisto.