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Conceição renovou

Ao voltar a sublinhar que não está no FC Porto por dinheiro mas pelo “grande respeito” ao presidente e à instituição, o treinador dá a entender que continuará com Pinto da Costa até quando este quiser.

Conceição renovou
FERNANDO VELUDO/LUSA

A assembleia geral (AG) extraordinária em que os sócios do FC Porto vão votar o alargamento do prazo das eleições até junho de 2024 só vai realizar-se daqui a uma semana, mas Sérgio Conceição, bem ao seu estilo, não soube conter-se e já exerceu o direito de voto.

Fê-lo esta segunda-feira, perto da hora do almoço, perante muitos jornalistas e com honras de transmissão direta em alguns canais. Na conferência de Imprensa decretada pela UEFA para fazer a antevisão do jogo com o Antuérpia, o técnico foi incapaz de dedicar uma linha de pensamento ao adversário belga, e até Pepê, o jogador escolhido para projetar o confronto, conseguiu focar-se mais no duelo com Mark van Bommel. Bastaram nove dias e a inesperada derrota com o Estoril para Sérgio, isso sim, voltar a colocar-se incondicionalmente ao lado de Pinto da Costa e recuperar um assunto que ele próprio classificara como um “não tema” na sequência dos reparos feitos por André Villas-Boas à ausência de uma proposta de renovação do compromisso que o mantém na Invicta há sete anos.

Num discurso, reconheça-se, de todo coerente com aquilo que já várias vezes referiu no passado, Conceição tornou a sublinhar que não está no clube “por dinheiro” e só o “grande respeito” que tem “pelo presidente e pela instituição” é que o fez permanecer no comando técnico quando num “ano crítico” teve a “possibilidade de sair”.

De uma assentada e aproveitando a aguardada pergunta sobre as polémicas observações feitas na última sexta-feira aos diferentes departamentos do FC Porto, o mais titulado treinador dos azuis e brancos vincou a total autonomia para se pronunciar em público sobre estratégias e liderança e deu a entender que, na prática, a sua continuidade não está dependente de nenhuma formalização e muito menos de uma proposta a fazer de conta que é das Arábias. Basta o homem que está no poder desde abril de 1982 querer continuar a submeter-se ao sufrágio popular.

André Villas-Boas
POOL New

Dublin, o infalível departamento

Até por isso, o desafio frente ao “esquecido” Antuérpia, e toda a quarta jornada do grupo H da Liga dos Campeões, é especialmente importante e representa muitos (outros) votos na AG do próximo dia 13. Se FC Porto e Barcelona respeitarem a lógica do favoritismo e vencerem belgas e Shakhtar, no mínimo dos mínimos o vice-campeão nacional garantirá a continuidade na segunda prova uefeira e vestirá um colete à prova de balas na véspera da temível deslocação que lhe está reservada na próxima ronda do campeonato português.

Um dia antes de os dois primeiros classificados discutirem o dérbi dos dérbis no estádio da Luz, os portistas atuam em Guimarães e, na eventualidade de perderem o duelo com o recuperado Vitória, arriscam-se a terminar o fim de semana a 9 (!) pontos da liderança e a dividir o quarto lugar com Álvaro Pacheco.

Como é óbvio, para a concretização deste cenário que só o maior inimigo interno de Jorge Nuno Pinto da Costa conseguiria desejar, seria preciso que o Sporting vencesse na Luz e o Sporting de Braga no Municipal de Arouca, o que desde logo também deixaria Rúben Amorim com uma extraordinária folga no topo e, ironia das ironias, menos dependente da prova internacional em que efetivamente está.

Jorge Nuno Pinto da Costa
Diogo Cardoso

Ao contrário daquilo que pode vir a revelar-se imperioso para Benfica, FC Porto e Sporting de Braga, os leões, se continuarem (muito) destacados na tabela da Liga, não “necessitam” de sonhar tanto com nova final portuguesa em Dublin, palco no próximo ano de mais uma decisão da Liga Europa.

Quem repetir o feito de... André Villas-Boas em 2011 (o de Mourinho em 2004 parece menos verosímil) na capital irlandesa assegurará, tal como o campeão de Portugal, uma entrada direta na reestruturada Liga dos Campeões 2024-25. Nos clubes que se podem dar ao luxo de escolher os presidentes depois de concluída a época desportiva, nenhuma moção de censura iria resistir e de certeza que nenhum departamento votaria contra.