A menos de uma semana do arranque oficial da temporada, o mercado português continua a viver sob o signo de alguns mistérios que só dificultam a vida aos treinadores.
No próximo sábado, Sporting e FC Porto vão encontrar-se e na teoria nada garante a Rúben Amorim e a Vítor Bruno que algumas das suas principais estrelas não sejam negociadas antes da disputa da Supertaça.
O comunicado enviado no domingo pelos leões à CMVM dando conta da redução da percentagem referente à mais-valia que o Coventry possuía sobre uma transferência de Viktor Gyokeres aumentou a especulação sobre a iminente saída do sueco e deixou os adeptos do campeão nacional ainda mais expectantes sobre a vinda de Fotis Ioannidis.
Se perdesse nos próximos dias o melhor jogador da última edição da Liga, Amorim não teria outra alternativa senão canalizar todas as atenções para o jovem Rodrigo Ribeiro, uma vez que Paulinho espalha há algumas semanas a reencontrada eficácia pelo campeonato mexicano e Rafael Nel surge como a terceira opção para o eixo atacante.
Atendendo a tudo aquilo que se extraiu dos jogos de preparação, em certa medida, o FC Porto parece ter condições superiores para se adaptar a uma eventual machadada no plano desportivo. Privado desde logo do conforto financeiro que os rivais diretos ostentam, o treinador dos dragões nunca fez contas a um verdadeiro reforço, e até ao momento os mais transferíveis do plantel... não foram utilizados.
Sem colocar em causa a facilidade com que Diogo Costa entraria “direto” no onze portista que será eleito em Aveiro, a verdade é que, a começar pelo guarda-redes e a acabar no ponta de lança Evanilson, há um leque de figuras que escaparam aos exames de pré-época. Por terem estado ao serviço das respetivas seleções, tanto no Euro como na Copa América, também Wendell, Eustáquio, Pepê, Galeno e Francisco Conceição beneficiaram do adiamento das férias e tudo indica que vão ficar de fora da repetição do duelo do Jamor que permitiu a Sérgio Conceição fechar o ciclo num clima de festa.
Ao contrário do que se viu no Troféu Cinco Violinos, com a frente ofensiva da casa a exibir a destreza dos três mosqueteiros do reino (Trincão, Gyokeres e Pedro Gonçalves), ante o Al-Nassr, o vencedor da Taça de Portugal voltou a apostar em Danny Damaso como falso ponta de lança, cabendo a Gonçalo Borges e a Iván Jaime as tarefas que por norma pertencem a Chico Conceição e a Galeno. Uma vez que o próprio Vítor Bruno tem solidificado o 4-2-3-1, a coabitação entre Nico González, Alan Varela e Marko Grujic resolve o problema relacionado com a ausência do versátil Pepê, o que concorre para que os azuis e brancos se apresentem no sábado com meia equipa alterada face ao harmonizado em 2023-24.
É MUITA MASSA, MORITA
Um FCP remodelado assim seria o equivalente a um Sporting sem o mágico tridente do ataque e talvez sem Hidemasa Morita no meio-campo, apesar das dificuldades em espelhar dois conjuntos com sistemas incomparáveis. Avaliado em 15 milhões de euros (segundo o portal “Transfermarkt”), o internacional nipónico foi dos últimos a confessar o desejo de experimentar outros contextos competitivos e apontou mesmo a Premier League como o destino preferencial, não se mostrando particularmente receptivo à renovação do contrato.
Com 29 anos e comprometido com o Sporting até 2026, Morita sabe que pode estar numa fase crucial para cumprir o sonho de criança e também sabe que a cláusula de rescisão de 45 milhões de euros é proibitiva. Só a extraordinária benevolência de Frederico Varandas poderia permitir ao ex-Santa Clara despedir-se de Alvalade sob os pressupostos da atual cotação, o que significaria que o presidente leonino teria de fazer um megadesconto e validar uma venda por 1/3 do que está escrito.
Daniel Bragança e Mateus Fernandes (já sem falar em Samuel Justo) são alternativas credíveis ao japonês, no entanto, seria muito ingrato explicar aos sócios (e aos acionistas) como é que o parceiro de eleição do capitão Morten Hjulmand sairia por menos 30 milhões de euros do que estava idealizado. É exatamente o mesmo imperativo que se coloca a propósito da negociação de Gyokeres pelos 65 milhões de euros que lhe estão atribuídos pelo “Transfermarkt”.
A cláusula do imparável homem da máscara situa-se nos 100 milhões de euros e a SAD não teria autorização para vender retirando qualquer coisa como 35 milhões de euros ao total da operação. E o que vale para Varandas vale para Rui Costa. Do outro lado da Segunda Circular não se pode fantasiar com a saída de João Neves por 120 milhões (valor da cláusula) mas pode-se recusar uma transferência pelos 55 milhões em que está cotado o algarvio.
Numa estratégia negocial muito conveniente, o PSG acena com os salários de Renato Sanches e um pacote de 70 milhões de euros para convencer o Benfica a libertar Neves. Os dirigentes do emblema parisiense, com Luís Campos à cabeça, percebem que um montante daquela natureza é uma espécie de mínimo olímpico que na Luz tem de ser recebido como uma medalha de ouro.
Um encaixe de 70 milhões permitiria aos encarnados abrir espaço no balneário para Renato e cometer uma “loucura” por João Félix, neste momento avaliado em 30 milhões de euros depois de há cinco anos ter sido transacionado por históricos 127 milhões (recorde nacional).
Por muito que se tenha desvalorizado neste espaço de tempo, Félix abriria as portas do paraíso tanto a Roger Schmidt como a... Rúben Amorim. Se o menino bonito das águias estivesse pelos ajustes, de certeza que Frederico Varandas equacionaria o ingresso de Gyokeres no Atlético Madrid pelos tais 65 milhões... mais Félix. Já dava para levantar o alcatrão todo da Segunda Circular e fazer aterrar em Tires o concorrente de Vangelis Pavlidis na seleção grega. Esse mesmo, Fotis Ioannidis, o mistério mais mal guardado de Atenas.