Economia

CGTP e UGT criticam relatório do FMI que "afunda o país" e "põe em causa a Constituição"

O secretário-geral da CGTP considera que o relatório pedido pelo Governo ao FMI sobre cortes nas funções sociais do Estado "confirma o falhanço absoluto das políticas de implementação do memorando da troika". A UGT defende que as propostas do FMI são "absolutamente inaceitáveis", resultando em "cortes cegos" que põem em causa a Constituição.

(Reuters/Arquivo)
© Rafael Marchante / Reuters

Em declarações à Lusa, o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, sublinhou que o relatório do FMI demonstra que as políticas pelo Governo aplicadas na sequência do memorando  da 'troika', "ao invés de ajudar, estão a afundar o país". 

Para a CGTP, o relatório do FMI sugere o aumento do desemprego, "condiciona  brutalmente o acesso a serviços fundamentais" como saúde, educação e segurança  social sem nunca mencionar cortes na despesa, que, para a intersindical,  teriam obrigatoriamente que passar pelo fim das Parcerias Público-Privadas  (PPP) e dos benefícios fiscais para as grandes empresas. 

"Está aí a razão dos problemas do país, mas também no facto de as receitas  estarem a diminuir brutalmente. Este Governo continua a apostar na recessão  económica com tudo aquilo que lhe está subjacente", acusou. 

Arménio Carlos vincou que a "resposta a estes problemas" só pode ser  dada com "a participação cívica de todos sem exceção", e apelou a uma participação  massiva dos portugueses, "independentemente de posicionamentos políticos  ou sindicais", nas ações de protesto que a CGTP está a preparar, com expoente  máximo agendado para 16 de fevereiro, com manifestações previstas em todos  os distritos do país. 

Defendendo o fim do memorando da 'troika', que, para o líder da CGTP,  se tornou no "problema que impede as soluções para o país", Arménio Carlos  antevê novas medidas de austeridade para os próximos meses se não se inverterem  as políticas seguidas. 

"Já se provou que esta é uma política que não traz boas notícias. Para  a CGTP é preciso dizer basta [à troika e ao Governo]. É preciso acabar com  o memorando, porque ele se tornou no problema que impede as soluções para  o país. É preciso acabar com a política de direita, porque ela acentua ataques  sem precedentes à democracia, à soberania e a direitos fundamentais da população",  exigiu hoje o secretário-geral da intersindical CGTP-IN, Arménio Carlos.

UGT critica cortes cegos e inaceitáveis que põem em causa Constituição

Para a UGT, as propostas do FMI para cortes nas funções sociais do Estado são "absolutamente  inaceitáveis", resultando em "cortes cegos" que põem em causa a Constituição.

"As conclusões do relatório são absolutamente inaceitáveis. Não é aceitável  que se ponha em causa a Constituição, que se destrua a vida das pessoas  e que não haja qualquer nível de preocupação com a melhoria do funcionamento  da administração pública. O que é apontado são cortes cegos que vão, na  prática, destruir a função pública e um pior Estado Social", criticou o  secretário-geral da intersindical UGT, João Proença.  

O aumento das taxas moderadoras, a dispensa de 50 mil professores e  um corte em todas as pensões são algumas das medidas propostas do Fundo  Monetário Internacional num relatório pedido pelo Governo sobre o corte  nas funções do Estado. 

No relatório, divulgado hoje pelo Jornal de Negócios, mas que tem data  de dezembro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) detalha medidas que "poderão  aumentar a eficiência do Estado, reduzindo a sua dimensão de forma a suportar  a saída da crise". 

No relatório, é referido que os polícias, os militares e os professores  "continuam a ser um grupo privilegiado na sociedade", que os médicos têm  salários excessivamente elevados (principalmente devido ao pagamento de  horas extraordinárias) e os magistrados beneficiam de um regime especial  que aumenta as pensões dos juízes em linha com os salários". 

De acordo com o FMI, o corte dos salários dos funcionários públicos  e nas pensões são as duas vias centrais para a redução do peso do Estado.

"É bom lembrar que estas medidas surgem a pedido do Governo e por proposta  do Governo, nem sequer foi uma exigência da 'troika'. Esperamos pelo relatório  global para o poder analisar, mas à partida as medidas são claramente inaceitáveis",  concluiu Proença. 

Com Lusa