Economia

Pedro Nuno Santos admite que queria plano de reestruturação da TAP na AR mas não conseguiu

Para o ministro, a TAP precisa de um quadro de "estabilidade e previsibilidade" e "isso só se consegue se houver um compromisso da maioria do Parlamento, mas Costa diz que uma votação seria um "salto qualitativo".

Pedro Nuno Santos admite que queria plano de reestruturação da TAP na AR mas não conseguiu
MANUEL DE ALMEIDA

O ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, admitiu que pretendia levar o plano de reestruturação da TAP a votação no plenário da Assembleia da República, mas não conseguiu.

"Queria que fosse votado no parlamento, mas não consegui. É pena", reconheceu Pedro Nuno Santos, em declarações ao semanário Expresso.

O ministro argumenta que se o parlamento se comprometesse agora com o plano, seria mais fácil assegurar o impacto de injeções de capital em futuros orçamentos e a TAP viveria uma situação de mais estabilidade.

"Por força de razão, o parlamento devia ser chamado no início do processo a dizer o que quer e a comprometer-se com uma solução que vai ter necessariamente impacto em futuros orçamentos e governos", afirmou Pedro Nuno Santos ao Expresso.

Para o governante, a TAP precisa de um quadro de "estabilidade e previsibilidade" e "isso só se consegue se houver um compromisso da maioria do parlamento."

Governo recuou

A informação de que o plano da TAP iria ser votado no plenário da Assembleia da República foi avançada no domingo na SIC pelo comentador e ex-líder do PSD Luís Marques Mendes, segundo o qual o Governo colocaria assim nas mãos dos deputados a salvação da companhia aérea portuguesa.

Na segunda-feira, fonte da direção do PSD disse também à Lusa que o grupo parlamentar social-democrata foi informado pelo Governo da intenção do executivo de levar o plano de reestruturação da TAP a debate na Assembleia da República.

Mas dois dias depois, na quarta-feira, a líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, considerou, de manhã, não fazer sentido a votação do plano da TAP no parlamento e, depois, a partir de Bruxelas, o primeiro-ministro desfez qualquer dúvida quanto a essa possibilidade.

À entrada para o Conselho Europeu, António Costa "matou" o assunto:

"Creio que quem anunciou, ou teve uma má fonte, ou se precipitou naquilo que era a perspetiva da atuação do Governo".

"Quem governa em Portugal é o Governo, e isso significa governar nas áreas boas e nas áreas más, significa governar quando se tomam medidas populares e governar quando se tomam medidas impopulares. Faz parte da ação governativa e não vale a pena o Governo ter a ilusão que pode transferir para outro órgão de soberania aquilo que só a ele lhe compete fazer. Seria, aliás, um erro que assim fosse", acrescentou.

Frisando que "procurar consensos amplos em matérias que têm um efeito estrutural para o país" faz parte das tarefas de quem governa, o primeiro-ministro referiu que tem procurado "ter em conta a posição dos diferentes partidos políticos" no projeto TAP para que seja um "projeto nacional", mas que uma votação na Assembleia da República seria um "salto qualitativo".

"Daí a ser votado na Assembleia da República, creio que seria um salto que não teria em conta aquilo que é a repartição de competências no nosso sistema constitucional", concluiu o primeiro-ministro.

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Plano de reestruturação prevê apoio do Estado de 970 milhões em 2021

O Governo entregou esta quinta-feira a proposta do plano de reestruturação da TAP à Comissão Europeia. No plano, o Executivo prevê que a TAP venha a precisar de um apoio do Estado de 970 milhões de euros em 2021.

Num comunicado enviado às redações, os Ministérios das Finanças e das Infraestruturas afirmam que o documento "incorpora uma transformação significativa da operação da TAP, de forma a garantir a viabilidade e sustentabilidade da companhia no médio prazo".

"Esta reestruturação engloba medidas de melhoria da eficiência operacional, um redimensionamento da frota e de redução das despesas com pessoal."

A proposta será agora discutida conjuntamente entre o Governo e a Comissão Europeia.

O comunicado adianta ainda que o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e o secretário de Estado do Tesouro, Miguel Cruz, vão dar uma conferência de imprensa, esta sexta-feira, para explicar em detalhe o plano de reestruturação.

TAP VAI CORTAR ATÉ 300 MILHÕES DE EUROS POR ANO COM SALÁRIOS

A TAP tem de cortar até 300 milhões de euros por ano com salários.

A estimativa faz parte da síntese do plano de reestruturação, a que a SIC teve acesso, e que prevê também um corte de 25% nos salários a partir de uma garantia mínima. O que significa que apenas parte das remunerações vão sentir a redução, que será sempre superior no caso dos salários mais elevados.

O prazo para entregar o plano de reestruturação em Bruxelas termina esta quinta-feira. Mesmo com cortes salariais e despedimentos, a empresa vai precisar de mais dinheiro público. 3,2 mil milhões de euros até 2024.

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Os trabalhadores da TAP terão reduções salariais de 25%, no âmbito do plano de reestruturação, ficando isentas de corte as remunerações base até 900 euros, informou esta quinta-feira o Conselho de Administração, numa carta a que a Lusa teve acesso.

"Todos sabem da necessidade de adequar os salários à realidade atual, o que implica reduções salariais de 25%", lê-se na carta enviada esta quinta-feira aos trabalhadores, último dia do prazo para o Governo entregar o plano de reestruturação à Comissão Europeia.

Contudo, "como sempre nos comprometemos a fazer, tentamos reduzir o impacto social desta medida e queremos informar que o montante mínimo (garantia mínima) acima do qual incidirá a redução salarial anunciada, será de 900 euros, considerando para o efeito o vencimento base", segundo o presidente do Conselho de Administração, Miguel Frasquilho, e o presidente da Comissão Executiva, Ramiro Sequeira.