Economia

ANA Aeroportos avança com revogação de licença da Groundforce

Em causa está uma alegada dívida de 13 milhões de euros.

ANA Aeroportos avança com revogação de licença da Groundforce
PATRICIA DE MELO MOREIRA

A ANA Aeroportos acusa a Grounforce de uma dívida superior a 13 milhões de euros, por não pagar a licença de ocupação há mais de um ano, desde março do ano passado.

A empresa que gere os aeroportos nacionais afirma que esgotou todas as vias para encontrar uma solução e que, por isso, vai impedir que a Groundforce opere nos aeroportos de Faro e da Madeira.

A ANA Aeroportos aguarda por uma resposta da Groundforce e está disponível para receber propostas, por exemplo, de um plano de pagamentos faseados.

"A Groundforce ocupa espaços de domínio público aeroportuário pelos quais são devidas taxas conforme legislação em vigor. A ocupação destes espaços está sujeita a licença. Devido ao não pagamento desde março de 2020, e após esgotadas todas as vias para recebimento dos valores em dívida em todos aeroportos da rede ANA, superiores a 13 milhões de euros, a ANA vê-se obrigada a tomar medidas legalmente previstas, com vista à regularização da situação", refere a ANA em comunicado.

No sábado, a TAP garantiu que não tem quaisquer pagamentos em atraso à Groundforce, depois de a empresa de handling ter acusado a companhia aérea de ter uma dívida de 12 milhões de euros por serviços já prestados.

"A história de um capitalismo português indescritível"

José Gomes Ferreira lembrou, na SIC Notícias, como a empresa de handling chegou a esta situação, numa história que considera ser de “capitalismo português indescritível".

O jornalista regressa atrás no tempo – à era da troika – para explicar como Alfredo Casimiro, “que era um protegido de Ricardo Salgado”, adquiriu a maior parte das ações da empresa Groundforce. A venda ocorreu durante a época de crise económica, acabando com a gestão politizada da companhia.

“Alfredo Casimiro apareceu sem capital para comprar a empresa, disse que dava três ou 3,5 milhões. Quando entrou na empresa, firmou logo um contrato de gestão em que a Groundforce tinha de pagar à sua empresa um pagamento por gestão – que era bastante elevado. Ele tinha de pagar três milhões, não pagou até 2018”, explica José Gomes Ferreira.

Nessa altura, “ele inventou que a TAP tinha ficado a dever dinheiro do saneamento, no valor de 3,5 milhões – como quem diz “eu não tenho de vos pagar nada””. Para o jornalista, “isto é uma historia de capitalismo português indescritível”.

Com a crise provocada pela pandemia de covid-19, tanto a TAP como a própria Groundforce ficaram sem dinheiro porque o movimento caiu abruptamente.

“Este senhor [Alfredo Casimiro] veio inventar que a TAP deve dinheiro à Groundforce. Isso não é verdade, isto está mais do que demonstrado. Até há um voluntarismo político do próprio ministro das Infraestruturas, que disse à TAP que adiante dinheiro à Groundforce – e assim foi. E esse voluntarismo levou a que a Groundforce já deva 15 ou 16 milhões só à TAP. Deve mais de 10 milhões à própria ANA Aeroportos”, explica.

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Sobre o impacto da greve na economia portuguesa, José Gomes Ferreira reconhece razão aos trabalhadores de reivindicarem o pagamento de salários e subsídios de férias em atraso, mas defende que há outras formas de protestar. Sublinha ainda que a nova greve - marcada para os dias 31 de julho, 1 e 2 de agosto - torna a situação ainda mais complicada para ambas as empresas.

“Numa altura em que o país estava a tentar levantar a cabeça, em que o transporto aéreo, que é vital para trazer turistas, estava a tentar reanimar e aparece, de repente, uma greve destas e outra já marcada, com um desarranjo tão grande na vida das pessoas. Sinceramente, acho que os sindicatos têm quase toda a razão, eu acho que esta forma de luta ultrapassa as razões que eles têm”, afirma.