Economia

Análise

CTT: existe "indício que houve um crime de mercado praticado pelo Estado"

O tema CTT continua a dar que falar, especialmente após declarações de António Costa e Pedro Nuno Santos que não limparam o nevoeiro que assombra o negócio da aquisição de participação na empresa.

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José Gomes Ferreira e Bernardo Ferrão analisam as explicações do primeiro-ministro António Costa e do atual secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos. Para José Gomes Ferreira não existe explicação para a informação constar num documento público e depois ser ocultada.

"Há uma legitimidade política de um Governo de esquerda dizer que quer intervir numa empresa que era pública e foi privatizada, isso sempre existiu, foram democraticamente eleitos. A questão está na maneira como o processo foi desenvolvido, fica claro que foi o primeiro-ministro que deu ordem, por razões que eu acho que têm a ver com a política, ou com jogo partidário para ter apoio na sua governação", comenta José Gomes Ferreira.

Para José Gomes Ferreira, a decisão foi legítima “do ponto de vista político”, mas há algo que ainda coloca dúvidas.

“Houve uma intenção do Governo em nome do Estado de pôr uma empresa 100% pública a comprar ações desta empresa e o plano não era comprar 0,25 ou 2%, mas 13%, porque o que foi pedido à unidade de parecer, UTAM, foi que se pronunciasse sobre uma compra até 13% e isto está escrito num documento público do Estado com carimbo do Ministério das Finanças”, explica.

José Gomes Ferreira relembra que se o Estado quer adquirir até 13% e coloca num documento público isso, “a regra é comunicar imediatamente ao mercado porque é relevante”.

Mais. “Para qualquer operador que compre em bolsa quando se diz escrito, isso obriga a que seja declarado. É a primeira vez que vejo escrito num documento de estado um indício que houve um crime de mercado praticado pelo Estado”, esclarece.

Bernardo Ferrão também partilha da mesma análise, tendo em conta que é “estranho estar num documento oficial que o Governo pensasse que ninguém fosse saber nada à medida que a Parpública fosse comprando até 13%”.

“Obviamente que sabia e que concordo”, disse Pedro Nuno Santos, acrescentando que “foi feita uma compra de 0,24% cumprindo a lei e de forma a proteger da melhor forma o interesse nacional”.

“Agora eu não conduzi o processo, não sou ministro das Finanças”, reiterou, justificando que: “Não posso dar mais detalhes sobre a operação”.