Para além de Manuel Clemente, também o bispo da Guarda - Manuel Felício - e o bispo emérito de Setúbal - Gilberto Reis - terão tido conhecimento de queixas de abusos na igreja, tendo encoberto os casos.
De acordo com o jornal Expresso, os dois sacerdotes não comunicaram as suspeitas quer à Polícia Judiciária quer ao Ministério Público.
Manuel Felício levantou suspeitas há 10 anos
O semanário avança que o bispo da Guarda levantou suspeitas há quase 10 anos por ter ocultado casos de abusos sexuais sobre menores por padres da diocese. Na altura, pais de 17 menores terão feito uma queixa-crime à PJ. Um deles terá revelado que Manuel Felício lhe disse que deveria ter falado primeiro com ele antes de ir à PJ.
Segundo a investigação, a PJ suspeitava já nessa altura da existência de uma operação de encobrimento por parte das mais altas instâncias da diocese da Guarda.
Gilberto Reis recebeu queixas de padre ainda hoje no ativo
Já o bispo emérito de Setúbal recebeu queixas contra um padre que ainda está no ativo, diz o Expresso. O padre suspeito chegou a ser suspenso, mas voltou a exercer depois de um decreto do Vaticano.
Não foi feita uma participação ao Ministério Público, tendo em conta as recomendações canónicas e civis que estavam e vigor à data
Padre denuncia 12 sacerdotes por suspeitas de pedofilia
A história de um padre que denunciou outros 12 sacerdotes por suspeitas de pedofilia é revelada no Expresso desta semana. A investigação, levada a cabo pelos jornalistas Hugo Franco e Rui Gustavo, dá conta que metade destes padres ainda estão no ativo.
É revelado ainda que o Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, não foi o único a não dar seguimento a queixas.
Ao longo dos anos, o denunciante foi recolhendo vários dados, encheu dossiês, dois dos quais com fortes suspeitas por crimes de pedofilia que terão começado nos anos 90, um entretanto afastado da Igreja e outros ainda em funções. O padre, cuja identidade não é revelada, terá reunido vários testemunhos de vítimas que dizem ter sido assediadas ou abusadas nas casas paroquiais, nos carros e até numa casa no Algarve.
Um dos jovens, à data com 15 anos, viria a suicidar-se depois de ter revelado aos pais os crimes de que terá sido vítima. A família apresentou queixa ao Patriarcado de Lisboa, que acabou por transferir o padre para uma paróquia da capital onde, mais tarde, terá sido denunciado por outros menores. A Igreja acabou por colocá-lo noutra paróquia, num país europeu. Em 2013, o Patriarcado e o Ministério Público abriram uma investigação, mas o caso acabou arquivado.

PR: "O papel da Justiça é investigar"
Marcelo Rebelo de Sousa já reagiu, esta quinta-feira, à investigação do semanário Expresso. O Presidente da República recorda que se trata de um crime público e que cabe ao Ministério Público prosseguir com a investigação "conforme os elementos que tem". Deixou ainda um "forte apelo" para que todos participem e denunciem casos de abusos, "independentemente da iniciativa das entidades públicas".
