Abusos na Igreja Católica

Marcelo prestou "um mau serviço", palavras sobre abusos na Igreja são "lamentáveis"

O professor da Faculdade de Direito da Universidade do Porto e católico, André Lamas Leite, afirma que se o “objetivo do Presidente da República é que se apure tudo, doa a quem doer, este foi um mau serviço que prestou”.

Marcelo prestou "um mau serviço", palavras sobre abusos na Igreja são "lamentáveis"
RODRIGO ANTUNES/Lusa

André Lamas Leite, professor de Direito e católico, tal como Marcelo Rebelo de Sousa, não compreende a forma como o Presidente da República desvalorizou as vítimas de abusos na igreja.

O professor de Direito diz que as declarações do Presidente da República são “lamentáveis e muito infelizes” e recorda que tudo o que é dito em espaço público “é escrutinado e bem”.

“Aquilo que o Presidente da República disse pode ser interpretado na verdade no sentido de estar a desvalorizar as mais de 400 pessoas que tiveram a coragem de virem junto desta comissão independente reportar alegados casos de abusos sexuais.”

O professor universitário afirma que o que os evangelhos ensinam "é exatamente o contrário": "É estarmos do lado de quem sofre, é estarmos do lado daqueles que têm coragem para elevar a sua voz em defesa dos mais fracos".

André Lamas Leite considera que, neste caso, a parte mais fraca em toda esta história não é um bispo, "pelo contrário", e, por isso, afirma que não se vê "minimamente representado".

"Para já, nem acho que o Presidente da República se tivesse imiscuído nestas matérias, mas a fazê-lo e mal, está a fazê-lo de uma forma que demonstra quase uma espécie de cegueira religiosa que não é sequer típico dos tempos em que vivemos", acrescenta o professor universitário.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica recebeu 424 testemunhos e quando Marcelo foi questionado sobre este número disse não ser “particularmente elevado”.

O primeiro-ministro defendeu esta quarta-feira o Presidente da República após ter sido alvo de críticas na sequência da declaração polémica sobre abusos sexuais na Igreja.

“A violação dos direitos das crianças não tem a ver com a quantidade”, esclarece António Costa. “Cada caso é um caso de uma gravidade imensa em si própria. Seguramente, o Presidente da República não o quis desvalorizar”, defende o primeiro-ministro.

Marcelo tentou corrigir a declaração três vezes, mas a polémica foi ficando cada vez mais intensa. O Presidente da República considera que foi mal interpretado quando disse que as mais de 400 denúncias conhecidas "não são um número elevado" comparando com outros países.

"Já percebi que de facto foi mal interpretado o que eu disse, não percebo bem porquê, mas as pessoas têm todo o direito de não entender", começou por dizer à SIC Notícias.

De seguida, o Presidente da República fez questão de sublinhar que os crimes de abuso na Igreja são uma "realidade grave" e que "basta haver um caso para ser grave". Esclareceu ainda que continua a achar 400 casos "pouco" e explica porquê.

"A minha convicção é que são muito mais. Quando acho que os casos são poucos é porque acho que os casos deviam ser mais de acordo com a realidade portuguesa", explica.

Questionado sobre se deve um pedido de desculpas, como reivindicado pelos partidos, o Presidente Marcelo diz apenas que respeita essa opinião, mas que em democracia “aceita-se a crítica e ninguém pode ficar amuado ou ferido com isso”. Rejeita ainda que o episódio o deixe fragilizado politicamente.