O Alto Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi, alerta que a chegada do inverno poderá tornar ainda mais dramática a situação humanitária no Afeganistão, num momento em que o país enfrenta divergências políticas.
Numa economia à beira do colapso, em que a larga maioria dos cidadãos não tem sequer dinheiro para garantir refeições, há dois negócios que à primeira vista prosperam no Afeganistão: o das bandeiras do Emirado islâmico, que os talibã impuseram após a chegada ao poder, e a comercialização de antenas parabólicas e recetores de satélite.
Com programas de entretenimento e informação entretanto proibídos, quem tem 2 mil afghanis, equivalente a cerca de 23 dólares americanos, tenta sintonizar canais estrangeiros.
Com cargos ainda por distribuir, o governo de transição estará a enfrentar violentas divisões internas, ao ponto de o número dois do regime ter sido dado como morto.
Com paradeiro desconhecido desde a altura em que foi nomeado vice-primeiro-ministro, corriam rumores de que o mulá Abdul Ghani Baradar, co-fundador do movimento talibã, teria sido assassinado no palácio presidencial.
O desmentido chegou pela voz do próprio.
"Eu estava a viajar de Cabul, então não tive acesso à media para rejeitar esta notícia. Asseguramos à nação do Afeganistão, aos mujahadeen, aos anciãos e à juventude, que não se preocupem e que não há razão para se preocupar", disse o vice-primeiro-ministro do Afeganistão, Abdul Ghani Baradar.
A luta pelo poder, entre os talibã alegadamente mais moderados e a linha dura que tenta impor um regresso ao passado, revela, segundo alguns analistas, uma crise de liderança e lealdades, que a morte do fundador do movimento desencadeou.
Um mês depois de os radicais terem reconquistado o país, as empresas estão à beira do colapso, os bancos não têm dinheiro, e a comunidade internacional enfrenta um dilema.
“É importante que o país não seja completamente estrangulado. Deve haver maneiras de injetar algum dinheiro na economia afegã. Não questiono, é claro, as medidas que foram tomadas pela comunidade internacional, mas deve haver maneiras de injetar algum dinheiro na economia afegã para que a economia não entre em colapso e para que as pessoas não fiquem numa situação dramática, obrigando provavelmente milhões a fugir, o que seria um desastre terrível para a região”, diz o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres.
A conduta, mais do que a palavra, foi desde logo a condição imposta para a ajuda da comunidade internacional ao Afeganistão, mas as disputas internas dos últimos dias ainda aumentam mais a desconfiança face aos talibã.
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