Pedro Miguel Marques da Costa Filipe. O nome dirá muito pouco ou nada à maioria dos adeptos, mas se, ao invés de cinco nomes mencionarmos quatro letras - Pepa - a conversa é outra. Aos 44 anos, abraça o quarto desafio além-fronteiras, o segundo no Brasil.
“O futebol no Brasil é como se fosse uma religião”, conta o treinador português que, este ano, comandou o Sport Recife na subida ao Brasileirão.
O clube do estado de Pernambuco tem cerca de cinco milhões de adeptos, sendo conhecido como o maior do nordeste brasileiro. “São absolutamente fanáticos” e até os diretores do clube elevam essa condição (de adepto) a outro patamar, revela Pepa.
“É uma loucura de jogos. Uma selvajaria”
Apesar de admitir que a ida para a Série B do Brasil foi um “passo atrás” na carreira, o treinador, que em Portugal orientou vários clubes da Primeira Liga, encontrou no Sport um desafio que o tem cativado. Isto apesar do intensíssimo calendário.
"É uma loucura de jogos. O Sport fez 64 esta época, é uma selvajaria. (…) Tivemos oito encontros consecutivos a jogar de três em três dias. Quando tivemos um quarto dia sem jogo, celebrámos", afirma.
A distância da família é o maior dos desafios, mas, segundo o técnico, "se a minha família estiver bem, eu estou bem”.
"Senti-me injustiçado no Cruzeiro. Queria mostrar trabalho e não me deixaram"
A primeira passagem pelo Brasil aconteceu no ano passado, ao serviço do Cruzeiro: em 25 partidas, venceu sete, empatou oito e perdeu 10.
Deixou o emblema de Belo Horizonte frustrado e confessa mesmo ter-se sentido “injustiçado” com a forma como essa saída aconteceu: “Não estava ressabiado, mas queria provar trabalho, o que não me deixaram fazer”.
O orgulho em ser treinador português
Para Pepa, a relação com os adeptos do Sport teve a natural volatilidade que oscila ao sabor dos resultados: “No Brasil consegues ser Deus e o diabo em poucos segundos. (…) Hoje querem fazer-te uma estátua e amanhã querem dar-te uma martelada na cabeça”, descreve o técnico.
O treinador salienta também o sucesso alcançado pelos treinadores portugueses no futebol brasileiro.
“Acima de tudo, temos de ter orgulho daquilo que o treinador português está a desbravar. Tudo começou com a muita formação (…) e depois o Mourinho foi o expoente máximo para nos abrir portas no mundo”, diz.
“Quero voltar a Portugal, como é óbvio”
Depois da família, a maior saudade de Pepa em relação a Portugal é definitivamente a gastronomia. “Não há como a nossa comida. Já fui comer bacalhau a três sítios diferentes, mas não há bacalhau como o nosso. Leitão também já comi, não há como o nosso. Frango assado não há como o nosso. Feijoada brasileira é muito boa, mas é tudo tão escuro que nem dá para perceber o que estamos a comer, se é carne, feijão ou arroz”, conta o treinador.
“Gostava mais da comida em Belo Horizonte do que em Recife”, admite o treinador português, que revela as suas iguarias favoritas dos tempos no Cruzeiro: feijão-tropeiro, queijo de Minas e torresmo.
O treinador português partilha também histórias caricatas que viveu na Arábia Saudita, quando treinou o Al-Tai.
Sobre o futuro, Pepa assegura querer regressar a Portugal, "como é óbvio”. O técnico explica ainda as razões pelas quais considera “quase impossível” rejeitar o desafio de treinar na Série A brasileira.