Além Fronteiras

Pepa: "Senti-me injustiçado no Cruzeiro, queria mostrar trabalho e não me deixaram"

É um dos treinadores que, em 2024, contribuiu de forma decisiva para a afirmação do sucesso dos técnicos portugueses no futebol brasileiro, ao comandar o Sport na subida ao Brasileirão. No país-irmão, a alegria que hoje vive contrasta com o sentimento de injustiça que ficou da passagem pelo Cruzeiro. Ainda assim, Portugal continua no coração, não só pelas saudades da família (e da comida), mas também pelo desejo de voltar a, por cá, treinar. Pepa partilha também com Nuno Luz histórias caricatas que viveu na Arábia Saudita.

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Pedro Miguel Marques da Costa Filipe. O nome dirá muito pouco ou nada à maioria dos adeptos, mas se, ao invés de cinco nomes mencionarmos quatro letras - Pepa - a conversa é outra. Aos 44 anos, abraça o quarto desafio além-fronteiras, o segundo no Brasil.

“O futebol no Brasil é como se fosse uma religião”, conta o treinador português que, este ano, comandou o Sport Recife na subida ao Brasileirão.

O clube do estado de Pernambuco tem cerca de cinco milhões de adeptos, sendo conhecido como o maior do nordeste brasileiro. “São absolutamente fanáticos” e até os diretores do clube elevam essa condição (de adepto) a outro patamar, revela Pepa.

“É uma loucura de jogos. Uma selvajaria”

Apesar de admitir que a ida para a Série B do Brasil foi um “passo atrás” na carreira, o treinador, que em Portugal orientou vários clubes da Primeira Liga, encontrou no Sport um desafio que o tem cativado. Isto apesar do intensíssimo calendário.

"É uma loucura de jogos. O Sport fez 64 esta época, é uma selvajaria. (…) Tivemos oito encontros consecutivos a jogar de três em três dias. Quando tivemos um quarto dia sem jogo, celebrámos", afirma.

A distância da família é o maior dos desafios, mas, segundo o técnico, "se a minha família estiver bem, eu estou bem”.

"Senti-me injustiçado no Cruzeiro. Queria mostrar trabalho e não me deixaram"

A primeira passagem pelo Brasil aconteceu no ano passado, ao serviço do Cruzeiro: em 25 partidas, venceu sete, empatou oito e perdeu 10.

Deixou o emblema de Belo Horizonte frustrado e confessa mesmo ter-se sentido “injustiçado” com a forma como essa saída aconteceu: “Não estava ressabiado, mas queria provar trabalho, o que não me deixaram fazer”.

O orgulho em ser treinador português

Para Pepa, a relação com os adeptos do Sport teve a natural volatilidade que oscila ao sabor dos resultados: “No Brasil consegues ser Deus e o diabo em poucos segundos. (…) Hoje querem fazer-te uma estátua e amanhã querem dar-te uma martelada na cabeça”, descreve o técnico.

O treinador salienta também o sucesso alcançado pelos treinadores portugueses no futebol brasileiro.

“Acima de tudo, temos de ter orgulho daquilo que o treinador português está a desbravar. Tudo começou com a muita formação (…) e depois o Mourinho foi o expoente máximo para nos abrir portas no mundo”, diz.

“Quero voltar a Portugal, como é óbvio”

Depois da família, a maior saudade de Pepa em relação a Portugal é definitivamente a gastronomia. “Não há como a nossa comida. Já fui comer bacalhau a três sítios diferentes, mas não há bacalhau como o nosso. Leitão também já comi, não há como o nosso. Frango assado não há como o nosso. Feijoada brasileira é muito boa, mas é tudo tão escuro que nem dá para perceber o que estamos a comer, se é carne, feijão ou arroz”, conta o treinador.

“Gostava mais da comida em Belo Horizonte do que em Recife”, admite o treinador português, que revela as suas iguarias favoritas dos tempos no Cruzeiro: feijão-tropeiro, queijo de Minas e torresmo.

O treinador português partilha também histórias caricatas que viveu na Arábia Saudita, quando treinou o Al-Tai.

Sobre o futuro, Pepa assegura querer regressar a Portugal, "como é óbvio”. O técnico explica ainda as razões pelas quais considera “quase impossível” rejeitar o desafio de treinar na Série A brasileira.