Os ismaelitas são uma minoria muçulmana xiita liderada pelo príncipe milionário Karim Aga Khan, distinguem-se pelo facto de serem a única comunidade islâmica liderada por um Imã vivo, com descendência direta do profeta Maomé. A comunidade em Portugal tem cerca de oito mil seguidores. O Centro Ismaili em Lisboa celebrou o 26.º aniversário no final de 2022.
O termo ismaelita surge algumas vezes no Livro de Génesis, na Bíblia, em referência aos descendentes de Ismael, o filho mais velho de Abraão, e os descendentes dos 12 filhos, os príncipes de Ismael.
As origens dos ismaelitas remontam ao século VIII, como ramificação dos xiitas. Começaram por ser uma minoria nómada discriminada, mas atualmente caracterizam-se por ter dos mais altos padrões de vida entre a comunidade muçulmana, seja qual for o país onde vivem.
De acordo com a doutrina xiita - uma das duas principais correntes do Islão a par do sunismo e onde a comunidade ismaili se insere - o profeta Maomé designou o seu primo e genro Ali como o Imã da comunidade muçulmana, estabelecendo assim a instituição do Imamat, a quem conferem a autoridade de liderar a comunidade em assuntos espirituais e seculares.
Os ismailis têm vindo a ser governados por um Imã vivo e designado de forma hereditária desde a morte do profeta Maomé. Ou seja, traçam a linha do Imamat por sucessão hereditária desde o primeiro Imã Ali até ao príncipe Karim Aga Khan.
Atualmente, em todo o mundo, a Comunidade Shia Ismaili, como é oficialmente designada, conta com aproximadamente 15 milhões de pessoas que vivem predominantemente no sul da Ásia, Ásia Central, África, no Médio Oriente, Europa, América do Norte e no Extremo Oriente.
A comunidade ismaili, presente nos quatro continentes, representa uma diversidade de culturas, línguas e nacionalidades, rege-se por uma Constituição, ordenada em 1986 e retificada em Lisboa em 1998, que à semelhança das anteriores, é fundada na aliança espiritual de cada um ao atual Imã, mantendo em simultâneo a aliança que todos os ismailis devem às entidades nacionais dos países onde são cidadãos.
Os ismaelitas distinguem-se, assim, pelo facto de serem a única comunidade muçulmana liderada por um Imã "vivo, presente, manifesto e com descendência direta do profeta Maomé" – o príncipe Karim Aga Khan.
Origens da Comunidade Ismaili em Portugal
A Comunidade Ismaili está alicerçada sobretudo em serviço voluntário e o líder Aga Khan tem encorajado os ismaelitas em todo o mundo a contribuir para o progresso das comunidades nos países em desenvolvimento.
Conduzido pela ética da sua fé e pela responsabilidade hereditária do Imã em promover a melhoria da qualidade de vida da sua comunidade, Aga Khan promove um trabalho de vanguarda na inovação e no desenvolvimento ao longo dos 60 anos como Imã.
O príncipe é também fundador e presidente da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento que opera em mais de 30 países e é uma das maiores organizações para o desenvolvimento no mundo, contando atualmente com mais de 80.000 colaboradores
Em Portugal, a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento conta com uma presença ativa desde 1983, tendo sido a Fundação Aga Khan Portugal oficialmente reconhecida por decreto-lei como uma Fundação Portuguesa em 1996, ano em que foi criado o Centro Ismaili em Lisboa.
"O Centro Ismaili, que reflete a identidade e a herança cultural da Comunidade Ismaili em Portugal, é, hoje em dia, um local visitado por centenas de pessoas.
Caracteriza-se não só por ser um espaço de oração para a comunidade, mas também, por ser ponto de encontro entre pessoas de diversos contextos sociais e culturais, promovendo desta forma a criação de pontes entre várias comunidades. Um lugar de partilha de conhecimento e desenvolvimento intelectual, celebrando valores como o pluralismo", pode ler-se no site do Centro Ismaili em Lisboa.
A Rede Aga Khan para o Desenvolvimento e a Fundação Aga Khan Portugal, empregam atualmente cerca de 100 pessoas.
As atividades da Fundação Aga Khan em Portugal vão desde a investigação à intervenção em áreas como a educação, exclusão social e pobreza urbana.
Comunidade Ismaili bem integrada em Portugal
Em entrevista à SIC Notícias, na sequência do ataque ao Centro Ismaili em Lisboa, Bruno Cardoso Reis traça as origens da comunidade em Portugal, vinda na maioria de Moçambique.
O comentador SIC e investigador no Centro de Estudos Internacionais do ISCTE sublinha o facto de se tratar de uma comunidade muito bem integrada em Portugal e o papel social que tem desempenhado, nomeadamente a cooperação com países africanos de língua oficial portuguesa.

O Centro Ismaili em Lisboa foi alvo de um ataque, realizado por um homem armado com uma faca de grandes dimensões, que foi detido e conduzido ao hospital, depois de matar duas pessoas e ferir uma terceira.
O ataque ocorreu quando decorriam aulas e outras atividades no Centro Ismaili, informou o presidente do Conselho Nacional da Comunidade Muçulmana Ismaili, Rahim Firozali.