Confrontos no Irão

"Tenho medo de não sair mais": italiana detida entre manifestantes presos no Irão

"Tenho medo de não sair mais": italiana detida entre manifestantes presos no Irão
Francisco Seco

"Eles prenderam-me. Estou numa prisão em Teerão. Por favor, ajudem-me...", disse Alessia Piperno.

Uma viajante italiana de 30 anos afirmou estar detida no Irão e pediu ajuda, segundo declarações dos pais publicadas hoje na imprensa italiana, quatro dias após a notícia de que nove estrangeiros tinham sido presos no país.

Foi a partir de uma, rápida, chamada telefónica que Alessia Piperno disse aos pais que estava presa após quatro dias sem dar notícias. "Estou bem, mas há pessoas aqui que dizem que estão aqui há meses e sem motivo nenhum. Tenho medo de não sair mais, ajudem-me", reporta hoje o diário italiano Il Messagero.

Segundo o jornal, a jovem, que viaja pelo mundo há seis anos, foi detida quarta-feira passada, dia do seu 30.º aniversário. O pai de Piperno, vive em Roma, referiu que, no último contacto telefónico, a filha disse que tinha planeado um piquenique para celebrar o aniversário com amigos franceses, polacos e iranianos.

Contactado pela agência noticiosa France-Presse (AFP), o Ministério dos Negócios Estrangeiros italiano não confirmou a identidade da cidadã italiana."Esperamos que o Ministério dos Negócios Estrangeiros italiano faça tudo o que for possível para obter a libertação de Alessia Piperno", escreveu a organização não-governamental Amnistia Internacional (AI) na rede social Twitter.

Alessia Piperno tem mais de 24 mil seguidores no Instagram. Nessa rede social pode-se ver fotografias de Piperno em várias partes do mundo, incluindo as mais recentes tiradas no Irão, onde se encontrava há cerca de dois meses. Nas publicações nas redes sociais, Piperno aparenta apoiar as manifestações que estão a alastrar-se por várias cidades do Irão, desencadeadas na sequência da morte, a 16 de setembro, de uma jovem de 22 anos sob custódia da polícia da moralidade, que fora detida três dias antes por uso incorreto do "hijab", o véu islâmico para tapar a cabeça.

"Tanta gente já perdeu a vida, tanta gente que nunca irá ver essa liberdade e que arriscou e lutou. Mas, se um dia este país [Notes:Irão] se libertar, é graças a essas pessoas, essas mulheres que saem à rua e queimam o 'hijab' (...)", escreveu Piperno num texto publicado na semana passada.

Na sexta-feira, as autoridades iranianas anunciaram a detenção de nove estrangeiros, nomeadamente da Polónia, Itália e França, em ligação, segundo Teerão, ao vasto movimento de protesto desencadeado pela morte de Mahsa Amini.

A repressão ao movimento deixou pelo menos 92 mortos, segundo a organização não-governamental Iran Human Rights (IHR).As manifestações continuaram domingo em praticamente todas as cidades do Irão, ao mesmo tempo que, em vários países se organizaram ações de protesto contra a polícia e mortalidade e em solidariedade com o movimento de apoio às mulheres iranianas, o mais importante no país desde 2019.