O Presidente da República compreende o cansaço dos portugueses que estão há meses com o negócio parado, mas apela ao fim de atos de violência nas manifestações.
"A manifestação é legítima e é uma expressão em democracia do estado de espírito dos portugueses. É uma chamada de atenção de quem tem de decidir e a necessidade de ir olhando para situações que em muitos casos se agravam com o correr do tempo. Aquilo que podemos pedir é que essas manifestações sejam feitas sem haver violência, que é indesejável para o todo social", disse Marcelo Rebelo de Sousa, à saída da missa no Santuário de Fátima em homenagem às vítimas da covid-19.
O chefe de Estado sublinhou que a pandemia "é em si mesmo uma violência", a crise económica e social também "é em si mesmo uma violência".
"Não podemos ter nem crises políticas nem situações de tensão levadas à violência, porque dissolvem o tecido económico e social, o relacionamento entre as pessoas e precisamos dessa solidariedade", acrescentou.
Marcelo Rebelo Sousa lembrou que quando decretou o estado de emergência avisou que ia haver "cansaço e fadiga".
"Na altura não parecia evidente, mas passados oito meses, qualquer dia nove meses, essa fadiga existe", tal como "cansaço e frustração". "Muitos estão desempregados, outros em situação de 'lay-off' e estão nessa situação há oito meses. Era o caso de alguns manifestantes de ontem. Outros que estão a braços com desgostos familiares, a perda de entes queridos, o não poderem acompanhar nessa perda e terem doentes nas famílias. Hoje praticamente não há nenhuma família que não tenha direta ou indiretamente, de forma próxima, alguém que convive com a covid-19 ou que sofre de outras patologias, cujo tratamento é sacrificado por causa da pandemia", afirmou ainda Marcelo Rebelo de Sousa.
Confrontado com a possibilidade de as manifestações se generalizarem, tendo em conta o estado de saturação das pessoas, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que "o mais importante é a reação das pessoas".
"A pior coisa que poderíamos ter na sociedade portuguesa era [confronto] entre os que querem a abertura rápida da economia e da sociedade e os que têm medo que essa abertura sacrifique a vida e a saúde", constatou.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, "se começamos a ter uma divisão entre esses grupos, e porventura mostram os inquéritos de opinião, o grupo que defende a vida e a saúde, sobretudo nos grupos de risco, é muito elevado, encontramos uma clivagem que pode ser por idades e por situação social".
"Temos de evitar isto. Manifestação sim, que haja a preocupação de encontrar soluções para os problemas sim, que entremos numa espiral de violência só agrava o confronto entre portugueses e só agrava aquilo que [já] é uma violência, que é a pandemia e a crise económica e social, isso devemos evitar", insistiu.
-
"Vai ser muito duro." Costa deixa mensagem ao país no primeiro fim de semana de recolher obrigatório
-
Restauração poderá receber apoio de 25 milhões de euros por encerramento ao fim de semana
-
Apoio do Governo à restauração. "É atirar poeira para os olhos"
-
Confrontos entre polícia e manifestantes durante protesto no Porto