Especialistas da Faculdade de Ciências admitem que Portugal pode estar a entrar na 5.ª vaga de covid-19 e defendem o reforço da vacina em grupos etários onde os novos casos têm aumentado, mesmo que tenham baixo risco de doença grave.
Num artigo datado se segunda-feira, Manuel Carmo Gomes e Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, defendem que, para que o coronavírus não interfira com a normalização da vida dos portugueses, deve combinar-se a manutenção de uma elevada proteção da população com reforços de vacinação em faixas etárias onde têm aumentando mais os novos casos, mesmo que tenham menor risco de doença grave.
"Deve ser assegurada a manutenção de elevado grau de proteção imunológica da população portuguesa. Se necessário, administrando reforços vacinais em grupos identificados como tendo maior risco de infeção e de transmissão do vírus, e não apenas aos de maior risco para doença grave", escrevem.
Mais infeções entre os 18 e os 25 anos
Os especialistas lembram que, nas últimas semanas, as idades onde o risco de infeção tem sido mais elevado se situam entre os 18 e os 25 anos, seguidos das crianças com menos de 10 anos e dos jovens adultos entre 25 e 40 anos de idade.
Estas idades, sublinham, aumentaram "a socialização após 1 de outubro, quando o país entrou na terceira fase do desconfinamento, associado aos 85% de cobertura vacinal alcançada".
Recordam que, pontualmente, têm ocorrido alguns surtos em lares de idosos, "originando incidências elevadas em maiores de 70 anos", mas -- insistem -- "globalmente não são os mais idosos que têm originado mais casos".
Contudo, frisam, "continuam a ser os mais idosos os mais suscetíveis a doença grave, justificando hospitalizações e, eventualmente, óbitos".
Como exemplo, indicam que, ao longo do mês de outubro, "os maiores de 70 anos representaram cerca de 70% dos internados em enfermaria covid-19 e cerca de 91% dos óbitos, mas apenas 15% das infeções ocorridas".
Retardar a propagação da covid-19
Defendem que só a combinação de elevada cobertura vacinal com a manutenção de medidas não farmacológicas, sobretudo o uso de máscaras e o arejamento de espaços fechados, pode retardar significativamente a propagação do SARS-CoV-2.
"O incumprimento de pelo menos um destes requisitos é uma explicação provável para o ressurgimento da infeção a que assistimos presentemente na Europa, mesmo em países com 60% a 75% da população vacinada, como é o caso do Reino Unido, Bélgica, Holanda, Alemanha, Grécia e Irlanda", escrevem.
No artigo divulgado no 'site' da Faculdade de Ciências da Universidade Nova, Manuel Carmo Gomes (epidemiologista) e Carlos Antunes (matemático) dizem que "é previsível" que neste outono e inverno Portugal continue a ter "uma incidência diária de várias centenas de casos e um pequeno número de óbitos".
"Na verdade, os recentes dados do início de novembro sugerem um ressurgimento apreciável da infeção, sendo provável que estejamos a assistir ao início da 5.ª vaga", acrescentam.
Infeções e mortes sobem pelo mundo
A Áustria anuncia o reforço das patrulhas que vão controlar o acesso a cafés, restaurantes e hotéis, depois de Viena ter imposto o certificado de vacinação para tentar travar a subida das infeções por covid-19, ao mesmo tempo que, nos Estados Unidos, a abertura às viagens não essenciais fez disparar os voos com destino ao país.
Pela primeira vez em 20 meses, milhares de passageiros vão poder aterrar nos Estados Unidos, oriundos de qualquer país para visitas consideradas não essenciais. As fronteiras reabrem-se aos viajantes estrangeiros, mas com esquema vacinal completo contra a covid-19 e um teste negativo feito até 72 horas antes do embarque.
O levantamento das restrições nas fronteiras aéreas e terrestres ocorre quando 70% da população adulta está totalmente vacinada e já arrancou a administração de doses de reforço para maiores de 65 anos, ainda que a administração Biden se esteja a debater com questões jurídicas em torno da intenção de tornar obrigatória a imunização em empresas com mais de 100 funcionários.
Na Rússia, de regresso das férias forçadas impostas pelo Kremlin para travar a vertiginosa subida de infeções e mortes, o metropolitano de Moscovo espelha a relutância de alguns em reconhecer a gravidade desta quarta vaga de covid-19. É possível ver-se carruagens sobrelotadas e utentes sem máscara, num país onde a taxa de vacinação não chega aos 35 por cento.
Na Alemanha, que tem menos de 70% da população com as duas doses, a taxa de incidência acumulada nos últimos sete dias atingiu, esta segunda-feira, um novo máximo desde o início de pandemia: mais de 201 infeções por 100 mil habitantes.
Na Áustria, com uma taxa de vacinação inferior a 65%, a taxa de incidência de infeções é três vezes superior à da vizinha Alemanha: 635 novos casos em 7 dias por 100 mil habitantes. O Governo de Viena anunciou o reforço das patrulhas policiais, com mais 800 agentes, para impor novas regras que impedem quem não estiver totalmente vacinado de frequentar restaurantes, hotéis, cabeleireiros e grandes eventos públicos.

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