Germano Almeida

Comentador SIC Notícias

Eleições nos EUA

EUA-2024, Eleição Decisiva: ainda foi possível ter vitória do bom senso

A análise de Germano Almeida, comentador SIC, a 519 dias da eleição presidencial norte-americana de 2024.

EUA-2024, Eleição Decisiva: ainda foi possível ter vitória do bom senso
SARAH YENESEL

Ron DeSantis entrou na corrida de forma desastrada, Donald Trump aproveitou para ridicularizar o opositor e aumentar ainda mais a vantagem na corrida republicana. Mike Pence avança esta semana, mas a sua missão é tendencialmente impossível: foi o mais fiel servidor de Trump até à invasão do Capitólio, ia perdendo a vida nesse fatídico 6 de janeiro de 2021.

Mas ainda há boas notícias na política americana: o acordo que travou o risco de "default" mostrou um último fôlego de responsabilidade bipartidária, com créditos a atribuir ao Presidente Biden mas também ao "speaker" republicano Kevin McCarthy.

O QUE OS ÚLTIMOS DIAS NOS MOSTRARAM

Os EUA evitaram o seu primeiro "default" da História por apenas três dias. Foi uma vitória para Joe Biden e para Kevin McCarthy, num último fôlego de responsabilidade bipartidária numa política americana cada vez mais polarizada.

McCarthy resistiu às pressões da ala extremista trumpista, que não admitem qualquer concessão ao Presidente democrata. Biden não cedeu à ala esquerdista do Partido Democrata (Bernie Sanders e Ocasio Cortez incluído). Os extremos queriam coisas diferentes: à esquerda não se admitia que Biden cedesse na parte fiscal, à direita não se admitia que McCarthy cedesse em temas como a energia, o clima ou a defesa.

Nada de fundamental da agenda Biden foi posto em causa. Joe Biden saiu vencedor, McCarthy provou que é possível que o Partido Republicano não fique totalmente refém da irresponsabilidade trumpista.

No fim da crise, ficámos a perceber que há mais de 20% de congressistas americanos que estariam dispostos a atirar a América para o abismo – e, por arrasto, o resto do mundo, ainda muito dependente da pujança da maior economia do planeta. Felizmente, na Casa Branca e na liderança da Câmara dos Representantes ainda estão políticos que fazem parte da maioria de bom senso.

TENDÊNCIA DEMOCRÁTICA

Joe Biden mantém avanço tranquilo e seguro sobre Bobby Kennedy Jr. e Marianne Williamson. O Presidente será, certamente, o nomeado presidencial democrata para 2024 – a menos que a sua idade avançada lhe pregue alguma partida suficientemente grave para o impedir de aceitar a nomeação na Convenção Democrata do verão de 2024.

Há dias, teve uma queda aparatosa, mas, de acordo com a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, o Presidente "está bem e recomenda-se". Kamala Harris, que continuará a ser a sua "vice" no ticket presidencial, será uma "voz liderante" na luta contra a posse abusiva de armas na América.

A estratégia democrata para a reeleição de Biden é muito clara: avisar os americanos para a irresponsabilidade que seria permitir que Trump voltasse à Casa Branca e fazer valer eleitoralmente, nos estados decisivos, o trabalho já feito por esta administração pelos interesses dos eleitores do Midwest e das minorias nos estados do Sul. Biden sabe que se repetir, em 2024, os triunfos de 2020 no Michigan, Pensilvânia e Wisconsin será reeleito. E até acredita que pode repetir as vitórias improváveis na Geórgia e no Arizona.

Mas pode haver surpresas: Sarah Arnold, no "TownHall", escreve um artigo interessante sobre a tendência dos millenials estarem a "começar a virar à direita": "À medida que o Partido Democrata se torna mais progressista, radical e insistente na sua pressão por uma agenda liberal, os jovens americanos estão a afastar-se e a inclinar-se para a direita. A geração millenial está a voltar-se para o Partido Republicano. O liberalismo não é o que costumava ser nos anos 2000. Ser liberal na sociedade de hoje não significa andar descalço, vender flores na estrada e queimar o sutiã. Em vez disso, significa apoiar a propaganda LGBTQ e sofrer lavagem cerebral por um Presidente de 80 anos que não se lembra onde está em metade do tempo. Quase 50% das pessoas nascidas entre 1980 e 1984 agora votam nos republicanos nas eleições presidenciais - uma tendência amplamente comparada aos hábitos de votação dos eleitores mais jovens da Geração X que vieram antes deles. Além disso, apesar dos millennials nascidos entre 1985 e 1994 ainda votarem no candidato democrata, os dados mostram que fizeram mudanças definitivas em direção à direita desde 2012, mesmo ano em que o presidente Obama foi reeleito. O arco-íris transformou-se num símbolo de sinalização de virtude que mostra o quão radical se é."

TENDÊNCIA REPUBLICANA

O governador da Flórida, Ron DeSantis, entrou na corrida de forma desastrada (problemas técnicos em lançamento supostamente "tecnológico" com Elon Musk no Twitter Spaces) e ofereceu de bandeja a Donald Trump (ainda) mais motivos para o ridicularizar.

Com 44 anos, Ron DeSantis nasceu em Jacksonville, Flórida, numa família italo-americana. Descrito como um "nativo da Flórida com raízes operárias", DeSantis foi criado em Dunedin, uma cidade na costa do Golfo da Flórida. A mãe trabalhava como enfermeira e o paie instalava caixas de classificação de TV Nielsen. Ron recebeu uma educação da Ivy League: formou-se em Yale em 2001 com em História. Foi capitão da equipa de beisebol da universidade. Lecionou brevemente na escola Darlington, um colégio interno particular em Rome, Geórgia. Frequentou depois a Harvard Law School, onde se formou em 2005 com distinção.

Em Harvard, DeSantis ganhou uma comissão na marinha dos Estados Unidos como oficial do corpo de juízes. Esteve em Guantánamo e depois no Iraque, como consultor jurídico do Seal Team One. Foi premiado com a Medalha da Estrela de Bronze e a Medalha da Campanha do Iraque.

Desde que se tornou governador, DeSantis lançou uma guerra contra a cultura "woke" na Flórida e assinou uma série de projetos de lei que as organizações de direitos civis condenaram amplamente como violações das liberdades individuais.

Em 2022, DeSantis aprovou a chamada proibição "não diga gay", que proíbe discussões sobre orientação sexual e identidade de género na escola. Proibiu estudos afro-americanos das escolas de ensino médio do estado, dizendo que o curso "carece de valor educacional". Assinou ainda um projeto de lei que aprova a proibição do aborto por seis semanas no estado e anunciou planos para impedir que as faculdades estaduais tenham programas sobre diversidade, equidade e inclusão e teoria racial crítica.

Durante toda a pandemia, DeSantis opôs-se firmemente às medidas de precaução da Covid-19, incluindo bloqueios e obrigatoriedade de uso de máscaras. Divulgou amplamente o negacionismo da vacina Covid-19. Em 2021, quando a Flórida sofreu aumentos recordes nos casos de Covid-19, DeSantis considerou os picos como "sazonais" e chamou a crescente luta enfrentada pelos hospitais estaduais de "histeria dos media". No início de 2023, anunciou proposta para banir permanentemente os mandatos do Covid-19 no estado.

UMA FRASE

"Concorro à presidência dos Estados Unidos para liderar o nosso grande renascimento americano. A nossa fronteira sul está em colapso, as drogas estão a entrar no país, as nossas cidades estão a ser devastadas pelo aumento da criminalidade, o governo federal está a tornar as coisas mais difíceis para as famílias sobreviverem e manter uma classe média"

(Ron DeSantis, anúncio de candidatura à Presidência dos EUA)

UMA SONDAGEM

Republicanos no Iowa: Trump 62 / DeSantis 20 / Haley 5 / Pence 5 (Emerson Poll, 19 a 22 maio)