Germano Almeida

Comentador SIC Notícias

Eleições nos EUA

DIA D-85: Vance teme a masculinidade de Walz

Opinião de Germano Almeida. Tim Walz que está a pôr Donald Trump e JD Vance com os nervos em franja e a sério que ainda há quem dê o benefício da dúvida quanto a um futuro Presidente Trump 2.0?
DIA D-85: Vance teme a masculinidade de Walz
Andrew Harnik

1 – Não é preciso ser maga para ser-se um macho de sucesso

É essa a lição de Tim Walz que está a pôr Donald Trump e JD Vance com os nervos em franja. Francis Wilkinson, na “Bloomberg”, vai ao ponto: “A masculinidade de Tim Walz é aterrorizante para os republicanos”. O companheiro de ticket de Kamala Harris tem traços tradicionais de "homem viril". Ele também não tem medo de mulheres, medo de negros ou medo do futuro. Um democrata progressista que caça, ama futebol e acredita na América para todos.

Desde terça-feira, quando a vice-presidente Kamala Harris apresentou o governador de Minnesota, Tim Walz, como “running mate”, os republicanos reduziram seus ataques iniciais à raça e ao género de Harris.

Em vez disso, eles têm como alvo os significantes tradicionais da masculinidade de Walz. Não é surpreendente. Qualquer democrata liberal cujo currículo inclua treinador de futebol, veterano militar e caçador de tiro certeiro é um desafio à mitologia MAGA, que postula que o liberalismo e o feminismo ameaçam a masculinidade tradicional, então é melhor votar nos republicanos antes que as amazonas saqueadoras tirem o seu cartão de homem ameaçado de extinção.

No lançamento da campanha em Filadélfia, Harris elogiou o "treinador" Walz, honrou seu status de veterano e sorriu com orgulho por Walz "ser conhecido como um dos melhores atiradores do Capitólio, vencendo um concurso bipartidário de tiro ao alvo ano após ano".

Esses traços masculinos tradicionais são ameaçadores o suficiente por si só. Mas se um atirador, treinador de futebol vencedor do título estadual e tipo normal pode alegremente ficar em segundo plano para uma mulher negra concorrendo à presidência, então o que isso diz sobre os esforços da MAGA para fazer engenharia reversa do século 21?

Afinal, se um tipo branco heterossexual de meia-idade que gosta de caçar não precisa de viver com medo constante de perder estatuto e não precisa de hierarquias tradicionais de género e raça para validar suas escolhas de vida, então para que precisa de Donald Trump e JD Vance?

Essa é uma pergunta aterrorizante para um ticket republicano que oferece pouco mais que ressentimento, raiva e uma promessa de restringir a liberdade e o poder democrático de seus oponentes. Isso explica por que Vance tivesse imediatamente começado a manchar o histórico militar de Walz, alegando - sem evidências, é claro - que Walz havia "abandonado" a sua unidade quando concorreu ao Congresso antes que a unidade fosse enviada ao Iraque.

Vance, em versão desespero, disse a Dana Bash, na CNN Internacional, que "esquisito é Walz". Mas até essa necessidade de responder a Tim prova que, pelo menos nesta fase, a narrativa está a ser dominada pelos democratas.

2 – Recordemos algumas coisas sobre Donald Trump

A sério que ainda há quem dê o benefício da dúvida quanto a um futuro Presidente Trump 2.0? Tal como aconteceu em 2020/2021, Donald dá cada vez mais sinais de que não aceitará a derrota. O que disse no debate de Cleveland, em 2020, sobre os Proud Boys (“Stand back and stand by”) é quase inimaginável, vindo de um Presidente em funções.

O caso do plano abortado do rapto da governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, felizmente desmontado pelo FBI, sinalizou, nessa altura, um novo grau de ameaça a aparecer na sociedade americana.

Donald Trump tinha feito um tweet a criticar a estratégia dura da governadora Whitmer em relação ao coronavírus: “Liberate Michigan!”. Um grupo de extremistas levou à letra as palavras do seu Presidente. As palavras contam. O ambiente malsão que cresceu nos últimos anos em torno de uma possível desobediência civil do “povo Trump” levou a 6 de janeiro de 2021.

David Kilcullen, um dos maiores especialistas mundiais em contrainsurgência, antigo soldado de infantaria do exército australiano e conselheiro do exército americano, deixou aviso na “Slate”: “A América está a começar a ficar num estado de insurgência incipiente”.

As palavras de Joe Biden na entrevista a Robert Costa na CBS News vão ao ponto. Só não está preocupado sobre como decorrerá a transferência de poder em caso de vitória Kamala quem andar mesmo muito distraído.

UMA INTERROGAÇÃO: Vai Kamala Harris conseguir manter o controlo da narrativa nas próximas dez semanas ou algo de surpreendente voltará a mudar o destino desta corrida?

Um Estado: Pensilvânia

A Pensilvânia tem 12,8 milhões de habitantes:

  • 75,7% brancos
  • 7,8% hispânicos
  • 12% negros
  • 3,8% asiáticos
  • 51,0% mulheres
  • 5.º maior estado em população
  • 21.º mais rico da União

Resultado em 2020: Biden 50,0%-Trump 48,8%
Resultado em 2016: Trump 48,6%-Hillary 47,9%
Resultado em 2012: Obama 52,0%-Romney 46,6%
Resultado em 2008: Obama 55,7%-McCain 44,3%
Resultado em 2004: Kerry 51,0%-Bush 48,5%


(Nas últimas 13 eleições presidenciais, 8 vitórias democratas, 5 republicanas)

Vale 20 votos no Colégio Eleitoral

Uma sondagem

VOTO POPULAR -- Kamala 44/Trump 42/ Kennedy 7/ Stein 1
(I&I/TIPP, 31 jul-2 ago)