Queda do BES

BES: 10 anos depois, que marcas deixou a queda deste império financeiro?

O BES foi o único grande banco do sistema bancário europeu a ser resolvido. Dez anos depois, à superfície, o que vemos? Um sistema bancário saudável, a apresentar os maiores lucros, depois das sucessivas crises. Há, todavia, um mas.

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No lado bom do BES, o Novo Banco - aquele que o Estado vendeu ao fundo americano Lone Star, em outubro de 2017 - foram injetados 3.890 milhões de euros para compensar as perdas previstas pelos empréstimos tóxicos herdados do BES, resolvido em 2014.

Os 3,9 mil milhões para o Novo Banco saíram dos cofres do Estado e estão a ser pagos em suaves prestações.

Há também centenas de processos judiciais a correrem contra o BES mau. O BES era o banco das pequenas e médias empresas e a resolução deixou centenas delas com a corda na garganta, muitas faliram.

Os seis mil milhões de euros que desapareceram dos cofres do BESA, a filial do BES em Angola, abriram ainda mais o buraco. A queda do BES contaminou a economia por inteiro. Milhares de pequenos aforradores condensaram as poupanças de uma vida no BES e muitos perderam tudo, a maioria perdeu quase tudo.

O Grupo Espírito Santo era um império empresarial com centenas de empresas e milhares de empregos. Milhares de pessoas tiveram de refazer as vidas, ou nunca mais as refizeram.

As contas totais são impossíveis de fazer, mas as estimativas mais realistas apontam para uma perda total a rondar os 12 mil milhões de euros, que nos vai saindo a todos do bolso.

E chegámos aqui vindos de onde?

Ricardo Espírito Santo Salgado, o banqueiro do regime, manobrou o país entre a década de 90 do século passado e até às vésperas da queda do império, a 3 de agosto de 2014.

Ricardo Salgado reunia, sobretudo, com figuras de topo: Durão Barroso, José Sócrates, Paulo Portas, Vitor Gaspar, Manuel Pinho, Miguel Relvas são nomes muitas vezes referidos na agenda do banqueiro.

Foi sempre pedindo favores e os pedidos, muitas vezes, concretizaram-se. Por exemplo, através do amigo Eduardo Catroga, que o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho convidara para coordenar o programa eleitoral do PSD, nas eleições de 2011, percebemos que o banqueiro influenciou esse documento, alinhando com Catroga matérias que poderiam ajudar o BES a vencer os efeitos das políticas restritivas da Troika.

A partir de 2010, Ricardo Salgado e os mais próximos começaram a fazer um esforço para não perderem o controlo do BES nem do GES, uma megalomania feita à custa de manobras de ocultação de dívida. Ao Banco de Portugal e à CMVM todos esses movimentos ilícitos pareciam escapar.

Em 2017 emitimos uma investigação onde provámos que o Banco de Portugal soube da situação real do BES pelo menos um ano antes da derrocada. O desvario, todavia, continuou, até que chegámos a 3 de agosto de 2014.

Em 2024, Ricardo Salgado, o marionetista do regime, foi detido pela demência.