Ano novo, vida nova, costuma dizer-se. António Costa foi obrigado a cumprir a expressão popular e a aproveitar o primeiro dia útil de 2023 para fazer aquilo que mais detesta fazer: remodelar o Governo.
Na mensagem de Ano Novo, o Presidente da República tinha-lhe dado as "linhas orientadoras", lembrando-lhe a "responsabilidade absoluta" de não deixar "enfraquecer ou esvaziar" a estabilidade política “ou por erros de orgânica, ou por descoordenação, ou por fragmentação interna, ou por inação, ou por falta de transparência, ou por descolagem da realidade”.
Costa mostrou estar atento aos recados presidenciais: mexeu na orgânica, separando em dois o ministério das Infraestruturas e da Habitação e, ao fazê-lo, reconheceu que o problema da Habitação é mesmo um dos que mais afeta os jovens (a quem garantira, na véspera, num otimista artigo de duas páginas no Jornal de Notícias, que não precisariam de emigrar); por fim, foi buscar para novos ministros duas pessoas já com provas dadas no Executivo e que, justificou, "dão garantias que não haverá perturbação no que estava a ser executado”. Quase que o ouvíamos pensar, no fim da sua declaração ao país: "Satisfeito, senhor Presidente"?
Marcelo Rebelo de Sousa, que à hora do anúncio dos novos governantes ainda estava no Brasil, teve o tempo da viagem de Brasília até Lisboa para medir muito bem as palavras que ia dizer à chegada.
Sem os paninhos quentes de outras ocasiões (não tão distantes assim), lamentou que o primeiro-ministro, podendo aproveitar a oportunidade para inovar, tivesse escolhido mexer "o menos possível" e recorrer à "prata da casa" para suprir o buraco deixado pela saída de Pedro Nuno Santos. Deixou o aviso: “É o primeiro-ministro a escolher e, naturalmente, ao escolher, conforme os resultados, assim será um sucesso ou não. Isso cairá em cima do primeiro-ministro”. E ainda: “Se funcionar, é uma boa ideia. Se não funcionar, retiraremos daí as conclusões”.
Andamos, desde ontem, a analisar o alcance da escolha de dois "pedro-nunistas" para ministros (é António Costa a querer limitar os danos para a ala esquerda do PS da saída de cena do seu mais promissor rosto? Ou antes a querer continuar a controlar os seus movimentos por terceiros?). Mas o que devíamos verdadeiramente estar a analisar é a mudança de registo de Marcelo que, neste Ano Novo, está visto, se decidiu a insuflar vida nova à função presidencial.