Governo

"Estrategicamente, o primeiro-ministro não podia fazer diferente"

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A politóloga, Patrícia Calca, analisou a atualidade política na Edição da Manhã, nomeadamente as declarações do Presidente da República esta quinta-feira, onde criticou as atuações do atual Executivo e a permanência de João Galamba no Governo.

As declarações do Presidente da República foram um aviso e um “marcar de posição” perante os portugueses, sendo que António Costa não demitiu João Galamba “estrategicamente”, segundo a politóloga Patrícia Calca. Nisto, o ministro das Infraestruturas continua "fragilizado".

Na Edição da Manhã, Patrícia Calca não considerou que João Galamba esteja mais fragilizado, após o braço de ferro com Belém e São Bento. A politóloga até considera que não havia outra decisão a tomar e que António Costa deu um “voto de confiança”.

"Em termos da fragilidade, eu penso que não é maior do que já era anteriormente, porque a situação em si é delicada, estando na agenda pública. Ainda assim, quando o primeiro-ministro decide manter, há quem tenha visto como voto de confiança. Acho que, estrategicamente, o primeiro-ministro não podia fazer muito diferente", observou.

Para Patrícia Calca, não seria sensato o primeiro-ministro ir de acordo com o que estava a ser ameaçado ou pedido pelo Presidente da República, que expressou a sua discórdia com a permanência de João Galamba no Ministério das Infraestruturas, após as polémicas com as reuniões prévias a comissões de inquérito com a ex-CEO da TAP, com o seu ex-adjunto Frederico Pinheiro e o SIS.

“Estar a responder aquilo que é pedido implica uma governação pelo soundbyte e isso também não é bom para o governo”, referiu a politóloga.

Para Patrícia Calca, o facto de Marcelo Rebelo de Sousa ser sempre muito interventivo, acaba por ter o resultado contrário ao efeito desejado, sendo que referir muitas vezes algo, acaba por tirar o peso às declarações, quando as ações não as acompanham

"Pareceu-me que o Presidente procurou esclarecer junto dos portugueses a cronologia, voltar a chamar a atenção, mas não sei até que ponto é que é eficaz. O Presidente tem vindo a aparecer imenso e sabemos, do que estudamos, que quando aparecemos demasiadas vezes com um certo tópico começa a haver uma vacinação, uma resistência aquela informação", esclareceu.

Apesar dos vários avisos, nomeadamente desta quinta-feira, por parte de Marcelo, a dissolução do Parlamento foi sempre referida enquanto poder do Presidente, mas para a politóloga nunca iria ser posto em prática.

"Neste momento, seria muito difícil dissolver o Governo em termos políticos e, também, em termos da estabilidade do país, nem acho que foi intenção do Presidente fazê-lo sequer. O problema é o recorrente aviso de quem tem esse poder e pode utilizá-lo. Ao referi-lo tantas vezes, sabemos que uma ameaça fica esvaziada de conteúdo, talvez tenha sido esse o problema", concluiu.

Desta forma, o discurso que o Presidente deu ao país “foi mais um aviso e um marcar de posição” e que o silêncio do Governo e do Partido Socialista é aconselhável, dado que ajuda a "não levantar mais ondas", segundo a politóloga.