O Presidente russo dirigiu-se esta quarta-feira à Nação. Putin continua a insistir na narrativa nazi, mas apresenta implicitamente fragilidades ao invocar a mobilização militar parcial.
O diretor-adjunto da TSF entende que o discurso corresponde às expectativas e é resultado da pressão do lobby da guerra. Para além disso, o comentador José Milhazes aborda o apelo que Putin fez à população e analisa o “timing” do discurso.
Os ucranianos mudaram de estratégia e no terreno passaram a adotar uma forte contraofensiva, o que lhes possibilitou a recuperação de vários territórios que estavam sob domínio russo. Na véspera do discurso de Putin, a Ucrânia anunciava a reconquista de Lugansk.
O recuo dos russos no território ucraniano chamou a atenção do lobby da guerra e de dirigentes russos, que pressionaram, por sua vez, o Presidente a discursar à população, considera Ricardo Alexandre.
A dificuldade de renovação de forças russas no terreno já se fazia sentir há algum tempo, mas Putin tentava disfarçar esta possibilidade, com recurso à propaganda.
"Putin deixa transparecer que são precisas tomar medidas mais fortes, que a Rússia ainda não fez tudo aquilo que podia fazer para atingir os seus objetivos", defende o comentador José Milhazes.
CRÍTICAS AO OCIDENTE
No discurso do Chefe de Estado russo não faltaram críticas ao Ocidente e à NATO. Putin alega que o objetivo dos países ocidentais é “enfraquecer, dividir e fragmentar a Rússia”. A retórica prossegue com o Presidente russo a admitir “ameaças e possíveis ataques” dirigidos ao país.
José Milhazes frisa que “Putin mente com todos os dentes” e justifica dizendo que “nunca um país da NATO fez chantagem nuclear com a Rússia”.
O comentador Ricardo Alexandre acrescenta que "nunca uma capital europeia disse que a ideia era atacar o território russo".
A IMPORTÂNCIA DOS REFERENDOS E O “TIMING” DO DISCURSO
Desde o início da guerra que a Rússia tem tentado incrementar referendos nas regiões conquistadas. Mas é importante reforçar que as tropas invasoras estão agora a enfrentar a contraofensiva ucraniana e a perder, alegadamente, controlo em algumas regiões.
Os referendos pró-russos na região do Donbass vão realizar-se de 23 a 27 de setembro. O objetivo aqui é dominar por completo as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk e as administrações de Kherson e Zaporíjia para que, por meio de referendos considerados “ilegais”, Putin possa intitulá-las como território russo.
Ora, pertencentes ao território russo, a Ucrânia ameaçará a Rússia se atacar essas regiões com armas da NATO, considera José Milhazes.