Guerra Rússia-Ucrânia

Análise

A armadilha onde os ucranianos podem estar a cair

A ofensiva russa "está em curso", afirma o comandante João Fonseca Ribeiro. O exército ucraniano deve "defender onde os outros atacam", mas ao fazê-lo está a entrar numa "batalha de desgaste em que se arrisca a perder algumas das melhores unidades", diz o jornalista Rui Cardoso. Estarão os ucranianos a cair numa armadilha?

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Algumas fontes abertas verificáveis apontam para que, "de facto, estão a ocorrer avanços, ainda que lentos, em redor de Bakhmut", explica o comandante João Fonseca Ribeiro, do Observatório de Defesa da Sedes, que considera que esta situação "é já incontornável".

O que a Rússia estará a fazer é uma tentativa de "conquistar território o mais depressa possível antes que a capacidade ucraniana possa crescer", diz o comandante. Porém, "estão a ter perdas assinaláveis, que podem condicionar a futura ação das forças russas no território".

O comandante explica ainda que perante "combates com o nível de intensidade que estão a acontecer", não faz sentido dizer que ainda se está à espera de uma ofensiva russa.

"A ofensiva está em curso", afirma o comandante João Fonseca Ribeiro.

No entanto, os "objetivos da ofensiva não estão a ser fáceis de alcançar", diz o comandante, e inclusive alguns chefes paramilitares já o afirmaram.

O jornalista Rui Cardoso alerta para "a armadilha onde os ucranianos podem estar a cair".

"É evidente que eles têm de defender onde os outros atacam, mas devem eles alinhar numa batalha de desgaste em que se arriscam a perder algumas das suas melhores unidades?", questiona.

Recordando o que aconteceu, em julho, em Severodonetsk e Lysychansk, o jornalista explica que se a zona onde estão a acontecer os combates se "transforma numa bolsa é uma chatice" e "aí sim é uma vitória importante russa".

"A questão é não deixar tropas importantes em risco de serem cercadas" e se para isso "a determinada altura entenderem que é mais inteligente e mais sensato ceder terreno", que o cedam, diz o jornalista.

“Ceder terreno ao inimigo é uma coisa que se faz desde o tempo dos gregos e romanos.”

Outro velho problema na guerra, que Rui Cardoso destaca, é "quando os políticos se metem ao barulho". Algo que também o comandante João Fonseca Ribeiro fala, dizendo que algumas das ações russas são mais "por intenções políticas do que por desejo militar".

“O segredo mais bem guardado das últimas décadas na Europa”

Os Estados-membros da NATO e os aliados da organização "estão a prestar auxílio sem precedentes" a Kiev, mas isso "está a consumir uma enorme quantidade de munições e a esgotar o stock", disse esta quarta-feira o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg.

O comandante João Fonseca Ribeiro afirma que a garantia de sustentação das forças no teatro de operações, nomeadamente a nível de munições, mas não só, é "fundamental".

Acrescentando que é necessário "olhar à garantia de fornecimento daquilo que é sustentável, mas combater com o exército que se tem e não com o que se deseja ter".

Rui Cardoso diz mesmo que "o segredo mais bem guardado das últimas décadas na Europa" é que "indústrias de defesa tinham encostado no parque de estacionamento": "Não se produz nada".

A NATO diz que está a trabalhar para "melhorar a capacidade industrial" e o secretário-geral anunciou um projeto para armazenar munições, que tem de ser em paralelo complementado com o aumento da produção.

Questionado sobre o alerta que fez para a escassez de munições, Stoltenberg respondeu que os Estados-membros estão a produzir mais munições e armamento para garantir que a NATO não está em falta com o compromisso de ajudar a Ucrânia a repelir a invasão russa.