Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito: Lula escolheu a pista errada

O Presidente do Brasil foi à China culpabilizar os EUA e a Europa pelo "incitamento" da guerra. Em vez de responsabilizar o agressor, Lula optou por culpabilizar quem ajuda o agredido a tentar a sua legítima defesa, enquanto a agressão não parar. Fez mal: o sucessor de Bolsonaro, em vez de recolocar o Brasil no caminho da credibilidade internacional, decidiu entrar na pista errada de quem no "Sul Global", envereda por uma espécie de cumplicidade com a Rússia. Um artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

O Presidente do Brasil, Lula da Silva
O Presidente do Brasil, Lula da Silva
UESLEI MARCELINO

1 – LULA QUER G20 POLÍTICO PARA NEGOCIAR A PAZ


Lula propôs mediação conjunta com China e Emirados Árabes Unidos na guerra entre a Rússia e a Ucrânia, uma questão que disse ter discutido em Pequim e em Abu Dhabi. O Presidente do Brasil concluiu visita aos EAU depois de ter estado na China. Reafirmou as acusações aos EUA e à União Europeia de prolongarem a guerra. A guerra foi provocada por "decisões tomadas por dois países", Rússia e Ucrânia, disse Lula da Silva na conferência de imprensa em Abu Dhabi que encerrou a visita aos EAU. Lula da Silva disse esperar que China, EAU e outros países se juntem num "G20 político" para tentar pôr fim à guerra desencadeada pela invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022. "O Presidente Putin não está a tomar qualquer iniciativa para parar a guerra; Zelensky da Ucrânia não está a tomar qualquer iniciativa para parar a guerra", disse o líder brasileiro, através de um tradutor oficial. "A Europa e os EUA continuam a contribuir para a continuação da guerra. Portanto, têm de se sentar à volta da mesa e dizer: 'basta'", afirmou. O Brasil presidirá ao G20 em 2024.

2 – "MANTIVEMOS A LUZ INTERIOR. DERROTÁMOS O PÂNICO"

Em domingo de Páscoa para os cristãos ortodoxos, Zelensky discursou, lembrando as palavras de há um ano e o momento presente: "Neste mesmo dia, há um ano, estávamos todos a rezar para que a Ucrânia resistisse. Agora, para que a Ucrânia seja vitoriosa". Sem farda, pela primeira vez desde o início da guerra, o Presidente da Ucrânia apontou: "Milhões de faíscas em milhões de corações ucranianos transformaram-se numa grande fogueira". Zelensky afirmou que a Ucrânia celebraria a Páscoa "com fé inabalável" na vitória. Lembrou, como no final do inverno do ano passado, que a invasão russa trouxe "morte, dor e escuridão", mas não conseguiu enfraquecer o desejo de liberdade dos ucranianos e sua vontade em defender seu país. "Mantivemos a luz interior. Derrotámos o pânico, o medo, as brigas e brigas. Unimo-nos. Milhões de faíscas em milhões de corações ucranianos transformaram-se numa grande fogueira". Entretanto, uma igreja em Nikopol, na região de Dnipro, foi bombardeada no domingo. Duas pessoas ficaram feridas.

3 – ZELENSKY PEDE QUE NÃO SE PERCA O FOCO

Zelensky diz que a Ucrânia está a entrar numa fase crítica da guerra e pede que não se perca o foco: "Muitos lugares estão hoje mais calmos quando comparado com o ano passado. Mas isto não significa que se pode ignorar a guerra noutros locais, ou perder o foco em ajudar o Estado", disse o Presidente ucraniano. Zelensky sublinhou a necessidade de o país ser proativo: "Não seria razoável" que a Ucrânia esperasse passivamente que outros alcançassem a vitória. "A vitória é conquistada por todos. Por aqueles que lutam por ela e pelos que nos dão armas. Pelos que reduzem as capacidades do Estado terrorista, e pelos que aumentam as da Ucrânia."


4 – ZELENSKY DEFENDE REGRESSO DA BANDEIRA UCRANIANA À CRIMEIA


"O mundo devia saber: respeito e ordem regressarão às relações internacionais apenas quando a bandeira ucraniana regressar à Crimeia, quando houve liberdade ali — assim como em qualquer outro lugar na Ucrânia", defendeu o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no seu discurso diário à nação. A referência à península anexada pelos russos em 2014 parece ser uma resposta ao Presidente do Brasil. Lula da Silva defendeu que o homólogo russo, Vladimir "Putin, não pode ficar com o terreno da Ucrânia — talvez nem se discute a Crimeia" — e que "Zelensky não pode querer tudo o que pensa que vai querer".


5 – RÚSSIA TENTA LEGALIZAR O CRIME NAS QUATRO REGIÕES OCUPADAS


Na reunião do Conselho de Segurança da Rússia de 5 de abril passado, liderada por Vladimir Putin, a primeira do género desde outubro de 2022, terão sido discutidos temas como a "reconstrução, aplicação de lei e ordem pública nas áreas da Ucrânia anexadas ilegalmente". A escolha de Viktor Kolokoltsev, ministro do Interior, para orador principal não terá sido aleatória, nota a Defesa do Reino Unido. "É provavelmente uma tentativa do Kremlin para retratar que a situação nesses territórios está a ser normalizada. Na realidade, muita dessa área continua a ser uma zona ativa de combate, sujeita a ataques partidários e com muitos cidadãos com acesso extremamente limitado a serviços básicos." A Rússia anexou Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson. Em outubro de 2022, Putin defendeu que a situação ia "estabilizar" nestas regiões anexadas.

6 – RECEITAS DE GÁS E PETRÓLEO DA RÚSSIA CAEM 45% NO PRIMEIRO TRIMESTRE


O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, previu que as receitas de gás e petróleo para o orçamento federal, que no primeiro trimestre caíram 45% face ao mesmo período de 2022, vão normalizar no final do segundo semestre. "Para finais do segundo trimestre aguarda-se que, no contexto do aumento dos preços do petróleo, a situação se altere e comecem a afluir as receitas adicionais de petróleo e de gás para o orçamento", disse Putin numa reunião com membros do Governo russo sobre o desenvolvimento socioeconómico do país. Entre janeiro e março, a contribuição de gás e petróleo para os cofres do Estado russo ascendeu a 1,6 biliões de rublos (18.744 milhões de euros), menos 45% em relação aos três primeiros meses de 2022.

7 – MACRON QUER EUROPA IMUNE AO "RITMO" IMPOSTO POR EUA E CHINA


O Presidente Francês quer uma Europa autónoma, com o seu próprio ritmo, tendo em conta que à medida que o conflito geopolítico acelera entre as duas potências - Estados Unidos e China - a Europa não tem tempo nem meios para financiar a autonomia estratégica. Macron expressou dúvidas relativamente à prioridade que a China dá à guerra na Ucrânia. "Talvez não seja uma prioridade. Mas este diálogo permite moderar os comentários que ouvimos sobre uma forma de complacência da China em relação à Rússia." "Penso que a China faz a mesma observação que nós, nomeadamente que hoje, o momento é militar". "O momento não é de negociações, ainda que as preparemos e que seja necessário plantar marcos".

8 – RÚSSIA QUER "NOVA ORDEM MUNDIAL" PARA ACABAR COM A GUERRA


O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, defendeu que as negociações para a paz com a Ucrânia dependem do estabelecimento de uma "nova ordem mundial", em que não se verifique um domínio americano. "As negociações só podem ocorrer tendo em conta os interesses russos. Estes são os princípios sobre os quais a nova ordem mundial será baseada", insistiu Lavrov. A Rússia ameaçou pôr em causa o acordo que permite a exportação de cereais ucranianos, se nada for feito para acabar com os obstáculos às exportações de fertilizantes e produtos alimentares russos. "Se não houver qualquer avanço para acabar com os obstáculos às exportações russas de fertilizantes e cereais, questionamos se este acordo é mesmo necessário", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo.

9 – MEDVEDEV: "A UCRÂNIA DEIXARÁ DE EXISTIR PORQUE NINGUÉM PRECISA DELA"

Dmitry Medvedev, Presidente da Rússia entre 2008 e 2012 (no intervalo em que Putin não pôde ser) e atual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, defendeu que o Estado ucraniano é "um equívoco criado pela dissolução da União Soviética" e que "a Ucrânia deixará de existir porque ninguém precisa dela". Na Europa, diz Medvedev, o apoio forçado ao regime nazi sob o comando do mentor americano já criou um verdadeiro inferno financeiro e político para os europeus", com consequências, incluindo "sanções inúteis à Rússia", que já levaram a explosões de descontentamento na Europa Ocidental e de Leste. Medvedev diz que até para o próprio povo ucraniano o país deixará de fazer sentido, já que dos 45 milhões de ucranianos vivem no país pouco mais de 20 milhões, "forçados a viver em constante ansiedade e medo", logo "dispostos a ir para qualquer lugar".

10 – EUA E FILIPINAS REALIZAM OS MAIORES EXERCÍCIOS DE COMBATE CONJUNTOS EM DÉCADAS

Os exercícios vão decorrer até 28 de abril e envolver mais de 17.600 militares. "As relações que temos, que construímos nestes exercícios, vão tornar-nos mais rápidos a responder a conflitos" nas águas do disputado mar do Sul da China, onde Washington considera que Pequim tem realizado ações cada vez mais agressivas Esta é a mais recente demonstração do poder de fogo norte-americano na Ásia, com a administração Biden, a reforçar um arco de alianças para melhor combater a China, incluindo num possível confronto sobre Taiwan, uma ilha democrática que Pequim reivindica como território chinês. "As relações que temos, que construímos nestes exercícios, vão tornar-nos mais rápidos a responder a conflitos, crises, assistência humanitária e alívio de catástrofes", disse o major-general da Marinha dos EUA, Eric Austin. Cerca de 12.200 militares norte-americanos, 5.400 forças filipinas e 111 soldados australianos estão a participar nos exercícios