Guerra Rússia-Ucrânia

Uma encenação?:"Putin sabia que eles iriam voltar para trás"

O politólogo José Filipe Pinto considera que tudo isto é uma narrativa com muitas pontas soltas e que o verdadeiro motivo para este avanço se prende com interesses pessoais de Prigozhin e nunca houve intenção de provocar uma guerra interna.

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O grupo Wagner mudou o seu rumo, saiu da linha da frente na Ucrânia e foi ocupando pontos importantes na Rússia em direção a Moscovo. Enquanto ponderávamos uma guerra civil, o politólogo José Filipe Pinto afirma que é preciso entender “a encenação” provocada a fim de interesses por parte dos mercenários.

A imagem que fica de Putin é de um líder fraco? Muitos analistas dizem que sim, mas José Filipe Pinto não vai de acordo, tendo em conta que esta marcha “ameaçadora” dos Wagner não passou de uma fachada.

"Cada vez mais Churchill tem razão, a Rússia é uma charada que está envolta num mistério dentro de um enigma. Eu disse, antes de Wagner voltar para trás, que ue entendia que Prigozhin tinha dado um salto para a frente mas tinha uma parede. Não era tão inesperado este desfecho", refere o politólogo.

Para Filipe Pinto, foi mais um braço de ferro do que qualquer ameaça de guerra civil e não existe autoridade perdida do presidente russo ao ter sito feito um acordo.

“Putin fez um discurso muito duro e a ideia que passa é que Putin perdeu autoridade com este acordo e é um líder fraco. Não é assim. O acordo foi feito com Lukashenko que é a voz de Putin,isto é um teatro de marionetas”, exolica.

Este avanço não era, no entanto, inesperado tendo em conta as críticas contínuas de Prigozhin ao Ministério da Defesa por não fornecer armamento suficiente aos paramilitares que, muitas vezes, estavam nas zonas mais difíceis e sangrentas da guerra na Ucrânia.

Mas esta marcha detinha interesses e nenhum deles envolvia, de facto, iniciar uma guerra em solo russo, segundo o politólogo José Filipe Pinto.

“No final de maio, um contacto dos serviços secretos da União Soviética disse que o grupo Wagner se iria revoltar e ia tentar garantir novos contratos. O grupo Wagner são mercenários, vivem da guerra, o lema deles é sangue, honra, pátria e coragem. Os mercenários só têm honra ao dinheiro.”, descreve.

Segundo explica o politólogo, esta cadeia de acontecimento deveu-se á vontade do ministro da Defesa russo do grupo Wagner assinar novo contrato onde eram submissos ao ministério. No entanto, eles são paramilitares, não fazem parte da estrutura, e o contrato teria de ser assinado até ao final deste mês. Prigozhin, segundo o especialista, não queria assinar contrato.

Tendo este pano de fundo, é evidente que todo o avanço foi uma pressão exercida para um grupo garantir que a sua vontade seja correspondida.

"Isto é tudo uma encenação, uma coluna que se desloca numa autoestrada pode ser bombardeada e não houve nenhum ataque a estas forças que se deslocavam, Putin sabia que eles iriam voltar para trás", evidencia José Filipe Pinto.

Para o politólogo, tanto Putin como Prigozhin são iguais e constituídos por características semelhantes.

“Prigozhin tem obesidade do ego, ele como Putin, liderança doentia, negra, o narcisismo, o maquievelismo e elementos psicopata. Ele disse que voltou para trás para evitar um banho de sangue, os psicopatas não têm ética”, refere José Filipe Pinto.

No final, depois do acordo ter sido concluído entre Prigozhin e Lukashenko da Bielorússia, fica evidente que Putin não queria aniquilar um grande ativo da guerra, o grupo Wagner, mas que já não necessita do seu líder, sendo o seu futuro incerto.

“É uma narrativa com muitos espaços em branco e ainda há pontas soltas e dizem respeito ao futuro de Prigozhin, que neste momento é afastado. Putin precisa de Wagner mas já não precisa de Prigozhin, uma parte considerável vai sentir-se atraído pela proposta de incorporar o exército rússo” , conclui.