O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia fez duras críticas aos analistas que dizem que a contraofensiva está a ser lenta. Dmytro Kuleba diz que quem o faz "está a cuspir na cara dos soldados". Ricardo Alexandre, diretor-adjunto da TSF e comentador SIC, analisa as declarações do chefe da diplomacia ucraniana, a anunciada deslocação de Zelensky à sede da ONU e outros desenvolvimentos da guerra na Ucrânia.
O ministro dos Negócios Estrangeiros “outorga-se quase no direito de falar desta forma, porque a Ucrânia está no momento em que está, a produzir alguma coisa em termos de avanços, ou seja, está a conquistar terreno na reconquista de Bakmut. No Leste, na região de Donetsk, e na parte ocidental da região do Zaporijía, também está a conseguir alguns avanços”, considera Ricardo Alexandre e sublinha que Kiev “tem tido pequenos avanços diários que servem, no mínimo, para levantar o moral e mobilizar as tropas ucranianas”.
O comentador da SIC não acredita que o Ocidente faça algum alerta sobre os ataques mais frequentes da Ucrânia em território russo, visto “dar como adquirido que a Ucrânia está a fazer estas incursões, que considera legítimas a alvos que tem atacado do lado da fronteira russa e, sobretudo, que o tem feito, recorrendo apenas a armamento produzido na Ucrânia, ou seja, que não está a utilizar material de equipamento militar emprestado pelo Ocidente, nomeadamente drones, para poder fazer estas incursões”.
“Creio que o Ocidente vai continuar a fechar os olhos a estas incursões que, nalguns casos, tem tido como objetivo alvos militares o que a Ucrânia considera como alvos legítimos do ponto de vista militar”.
A indústria militar do Reino Unido assinou um acordo com Kiev e instalou-se na Ucrânia, uma forma de facilitar o fornecimento de armas, "agilizar os processos, e tornar mais mais célere a chegada de armamento à Ucrânia", explica Ricardo Alexandre e avança que, sobre a questão da ajuda militar, a Ucrânia tem tem boas notícias nas últimas horas.
"Os Estados Unidos também aparentemente vão fazer chegar em meados de Setembro, cerca de um terço da promessa de envio de tanques Abrams para a Ucrânia, 13 creio dos dos 31 tanques prometidos podem chegar já em meados de setembro".
Zelensky na sede da ONU e as negociações para o acordo de cereais
O Presidente da Ucrânia poderá deslocar-se à sede da Organização das Nações Unidas (ONU) durante o mês de setembro. Essa deslocação de Volodymyr Zelensky “será, obviamente, do ponto de vista simbólico, mais um momento importante para a projeção da política externa ucraniana”, assegura Ricardo Alexandre que realça, contudo, que este poderá vir a ser um frente a frente de Zelensky com a Rússia, mas nunca com Putin, “será sempre com o representante diplomático da Federação Russa nas Nações Unidas”.
A ONU diz ter soluções concretas para ultrapassar os obstáculos relativos ao acordo de cereais. O comentador da SIC considera que “é preciso primeiro conhecer quais são essas soluções concretas e estáveis”.
"Guterres [secretário-geral da ONU] falou na necessidade de estabilidade do acordo e nós sabemos que, por via das sanções ocidentais, os fertilizantes russos não têm tido acesso aos mercados globais, como estava previsto no acordo inicial.
Se a ONU tem uma solução para contornar isso, vamos ver que tipo de reação há dos parceiros ocidentais a essa proposta das Nações Unidas, porque de facto, como disse António Guterres, é algo que beneficia não apenas a Federação Russa, dá também maior estabilidade e maior segurança à própria exportação dos cereais ucranianos."
Ricardo Alexandre destaca a importância de dar “mais garantias e mais segurança alimentar a aos países em desenvolvimento e aos países que carecem bastante estão bastante dependentes da importação de cereais ucranianos para poderem alimentar as suas populações”.