Guerra Rússia-Ucrânia

Análise

Compreender o conflito: o agressor quase não tem amigos

Putin recebeu Kim em Vladivostok e a cooperação Moscovo/Pyongyang terá evoluído para aliança. Cada vez mais isolado internacionalmente, o presidente da Rússia teve que recorrer ao país mais isolado do mundo. A Coreia do Norte tem armamento compatível com o modelo soviético e hábito de viver numa sociedade artificialmente virada para o poder bélico. Ambas as partes saem a ganhar, mas a grande conclusão que se tira é que o agressor da Ucrânia já quase não tem amigos. Análise do comentador da SIC Germano Almeida.
Compreender o conflito: o agressor quase não tem amigos
Getty Images

1 -- Putin aceita convite de Kim Jong-un para visitar Coreia do Norte

Putin aceitou o convite do líder norte-coreano, Kim Jong-un, para visitar a Coreia do Norte, avança a agência estatal norte-coreana, KCNA. O Presidente da Rússia encontrou-se na quarta-feira com Kim na cidade russa de Vladivostok, situada no extremo-oriente, a poucos quilómetros da fronteira com a China e com a Coreia do Norte. Na ocasião, Kim Jong-un mostrou-se do lado da Rússia na “guerra sagrada” contra o imperialismo americano. Japão e Coreia do Sul estão preocupados com possível acordo de armamento entre Putin e Kim. EUA avisam Coreia do Norte: "Ninguém deve ajudar Putin a matar inocentes"

2 -- Blinken: "Vivemos mais do que um teste ao pós-Guerra Fria. É o fim de tudo"

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, revelou análise sobre a situação geopolítica na Escola de Estudos Internacionais Avançados Johns Hopkins, destacando o atual momento com a guerra na Ucrânia. “O que estamos a viver agora é mais do que um teste à ordem pós-Guerra Fria. É o fim de tudo”. “Décadas de relativa estabilidade geopolítica deram lugar a uma competição cada vez mais intensa, com polémicas autoritárias e revisionistas”, acrescentou, para depois concluir: “A guerra de agressão da Rússia na Ucrânia é a ameaça mais imediata e aguda à ordem internacional consagrada na Carta da ONU e nos seus princípios fundamentais de soberania, integridade territorial e independência”. Sobre a China, Blinken considerou que constitui um “desafio significativo a longo prazo devido ao seu desejo de criar uma nova ordem internacional” e ao facto de ter meios tecnológicos, financeiros e militares para o fazer.

3 – Ucrânia vai usar plataformas de petróleo e de gás recapturadas aos russos na costa da Crimeia

A 11 de setembro, uma operação especial das forças ucranianas permitiu o fortalecimento do controlo das suas tropas sobre o Mar Negro. Kiev usou mísseis Storm Shadow de fabrico britânico para atacar Sebastopol – o que pode indiciar um uso para breve dos ATTCAM norte-americanos, que Biden deve avalizar nas próximas semanas. A Rússia diz ter destruído cinco barcos não tripulados que procuravam atacar navio de patrulha. Os cinco barcos não tripulados foram destruídos pelas “armas convencionais do navio” na madrugada desta quinta-feira, no Mar Negro. Na quarta-feira, um ataque russo ao porto ucraniano de Izmail, na região de Odessa, deixou seis civis feridos. Ao mesmo tempo, a Ucrânia confirmou ter lançado um ataque contra as forças russas em Sebastopol, na Crimeia. Um navio e um submarino das forças russas terão sido atingidos e danificados.

4 -- Ucranianos têm "entre 30 até 45 dias" para mostrarem resultados antes do inverno

O chefe das forças armadas norte-americanas, general Mark Milley, admitiu que o progresso na contraofensiva ucraniana está a ser mais lento do que o esperado e vaticinou que as tropas de Kiev têm “desde 30 até 45 dias” para progredirem no terreno, antes que as condições atmosféricas se tornem agrestes. Em entrevista à BBC reforçou: “Há ainda algum tempo, provavelmente entre 30 a 45 dias, em que vale a pena lutar. Os ucranianos ainda não terminaram o que estão a tentar atingir”. Milley lembrou que os ucranianos estão a fazer “avanços constantes”. “Estão a progredir de forma constante nas linhas de defesa russas.” “Pelo menos atingiram um sucesso parcial no que queriam atingir e isso é importante”, realçou o general, que indicou que, quando o outono e a chuva chegarem, o terreno tornar-se-á lamacento. “Será muito difícil a partir desse momento.” Mark Milley realçou ainda que disse que, “desde o início” do conflito, que a guerra seria “longa, difícil e com muitas mortes”.

5 -- Ucrânia pode ter recuperado Andriivka (mas não há consenso)

As forças ucranianas terão recuperado a aldeia de Andriivka, que estava parcialmente ocupada pela Rússia, garantiu a ministra Adjunta da Defesa, Hanna Maliar. “Temos boas notícias. Andriivka é nossa”, escreveu no Telegram. “Estamos a segurar a nossa posição”. A ministra Adjunta acrescentou ainda que as “principais batalhas” seguem nas direções de Andriivka, Kurdyumivka e Klishchiivka. Só que a Terceira Brigada de Assalto ucraniana disse que era “oficial” declarar que o anúncio da ministra Adjunta da Defesa, Hanna Maliar, sobre a recuperação de Andriivka é “falso e prematuro”. “Estão atualmente a decorrer combates sérios e pesados nas zonas de Klishchiivka e Andriivka”, disse numa mensagem de Telegram.

6 – Alemanha envia mais Marder e equaciona Taurus

O Governo alemão anunciou que vai enviar mais apoio militar à Ucrânia, inclui veículos de combate Marder, tanques de remoção de minas e munições - e estando ainda em discussão o envio de mísseis Taurus de longo alcance. A seguir aos EUA, a Alemanha é o país que mais tem enviado ajudas a Kiev, que totalizam 20,8 mil milhões de euros.

7 -- CIA tenta recrutar espiões russos nas redes sociais

Foi nas redes sociais que a CIA, a agência de inteligência norte-americana, se dirigiu aos russos. Com um vídeo de dois minutos, falado em russo e acompanhado de música dramática, a CIA promete manter em segurança todos aqueles que partilhem segredos sobre a guerra na Ucrânia. “As pessoas ao seu redor podem não querer ouvir a verdade”, diz o narrador. “Mas nós queremos. Você não é impotente. Ligue-se a nós de forma segura.” No final do vídeo, as personagens acabam a fazer um telefonema. Em julho, o diretor da CIA, William Burns, falou sobre este assunto, frisando que o crescente descontentamento entre certos russos era uma oportunidade única para recrutar espiões, e a CIA estava determinada a não perdê-la.

8 -- Acordo de cereais: Guterres conduz negociações secretas com a Rússia que podem fazer cair sanções

A informação consta de uma carta, datada de 28 de agosto, enviada por António Guterres ao chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov. Segundo o tabloide alemão Bild, que teve acesso à carta, o secretário-geral das Nações Unidas está a levar a cabo negociações secretas com a Federação Russa para reativar o Acordo dos Cereais. Em cima da mesa estará a hipótese de deixar cair a maioria das sanções impostas à Rússia depois da invasão à Ucrânia.

O Reino Unido vai acompanhar cargueiros de cereais no Mar Negro para impedir ataques russos: militares britânicos vão vigiar o Mar Negro numa tentativa de dissuadir ataques russos a navios que transportem cereais ucranianos. Sunak considerou que o fim do acordo dos cereais está "a provocar um enorme sofrimento a milhões de pessoas". Downing Street anunciou que, em novembro, Londres vai acolher uma cimeira global sobre segurança alimentar.

9 -- "Dentro de dois anos" a Ucrânia estará pronta para aderir à União Europeia

Dentro de dois anos a Ucrânia estará pronta para aderir à União Europeia. E, provavelmente antes, poderá integrar a NATO. Esta é a convicção de Olga Stefanishyna, vice-primeira-ministra da Ucrânia com a pasta da Integração Europeia e Euro-Atlântica. “Estaremos prontos para a adesão à UE nos próximos dois anos, mas, naturalmente, o curso da guerra determinará o quadro político”, disse Stefanishyna numa entrevista à Voice of America. “Acredito que dois anos serão suficientes para estarmos totalmente preparados e, quando a guerra acabar, faremos 10 vezes mais do que estamos a fazer agora para que esta decisão seja tomada.” Stefanishyna lembrou que a Ucrânia é um dos 20 maiores importadores de vários produtos da UE e o maior mercado da Europa: “E deste ponto de vista, a Ucrânia está mais preparada para aderir à UE do que outros países”.

10 -- Presidente do Conselho Europeu lembra China da sua "responsabilidade especial" em garantir paz

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, lembrou o primeiro-ministro chinês da "responsabilidade especial" do país asiático em garantir a paz e a estabilidade global, enquanto membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Segundo o Conselho Europeu, a União Europeia e a China são parceiros comerciais e económicos importantes e vão continuar "a assegurar que esta relação seja equilibrada, recíproca e mutuamente benéfica". "A UE continuará a abordar as vulnerabilidades críticas e a diversificar-se sempre que necessário e adequado, sem prejudicar os interesses económicos cruciais", sublinha o comunicado. Charles Michel confirmou também que a política de uma só China é "um princípio fundamental" da relação UE-Pequim.