O rasto do fogo, entranhado no betão e na memória, torna difícil o recomeço. Augusto perdeu a carpintaria com quase cinco décadas. preferiu salvar a casa e o carro e ainda não teve sequer coragem para ver o negócio da família em cinzas.
“Ardeu tudo. Foi as madeiras que eu tinha, a maquinaria… está lá tudo. Ferragens, mobília que eu tinha lá dentro”, conta Augusto Marques.
Augusto de 71 anos foi apenas uma vítima do que o fogo deixou. O momento em que viu o negócio da família em cinzas foi doloroso: “É cinza e ferros”.
Só no concelho de Albergaria-a-velha, um dos mais castigados, 40 famílias perderam a casa e aguardam uma resposta do Estado. A de Carlos ficou totalmente destruída. Já faz contas à vida e ao que é preciso para a reerguer
“Muita coisa, muitas obras. [É preciso] gastar muito dinheiro aqui para pôr isto como estava pelo menos”, diz Carlos.
Em Sever do Vouga marcas estão à vista: Décadas de trabalho engolidas pelas chamas
Em Sever do Vouga, outro dos pontos mais críticos, Sérgio, olha com angústia para o que restou. Décadas de trabalho engolidos pela violência das chamas.
“Não há palavras para descrever isto. Eu quando cheguei o fogo já tinha começado e não consegui chegar à beira do pavilhão porque estava sozinho e não tive a ajuda de ninguém. Nem bombeiros, nem proteção civil, nem GNR, nem nada de entidades. Estava sozinho com a minha esposa Margarida e com os meus filhos, o Fábio e o Sandro. Fomos só nós a tentar salvar este pavilhão e outros que eu tenho aqui em baixo. Eu praticamente duas noite não dormi, esta noite fui à cama, não consegui dormir e só via lume à minha frente, não via mais nada”, conta à SIC.
Sérgio agarrou-se à fé: “nem sequer nos passou pela cabeça o risco que estávamos a correr. Eu, a minha mulher e os meus filhos estivemos no meio das chamas, as chamas passaram por cima de nós. Pedimos ajuda a toda a gente e ninguém nos ajudou. Acho que só tivemos mesmo ajuda de Deus e da nossa Senhora de Fátima que nos deu forças para lutar e para não pensar no perigo”.
E no meio da tragédia também há momentos de sorte. Sergio tinha vendido há Três dias os 19 mil frangos que aqui criava.
Em Gondomar uma oficina ficou reduzida a cinzas
Em Gondomar, uma oficina com 40 viaturas ficou reduzida a cinzas. As imagens mostram a violência do incêndio.
“Só tive tempo de chamá-los lá dentro. Mandei um ir buscar os extintores todos que tinha, uma mangueira… liguei a mangueira para tentar regar o máximo possível, mas o fogo era muito”, relembra o dono da oficina.
Houve um cliente que perdeu quatro carros. “Isto é um inferno, estou desolado. Essencialmente pelo que eu encontrei, mais do que pelos meus quatros carros que têm um valor de 40 mil euros. Mais do que isso é ver o estado em que a oficina ficou”.
Cinco dias depois do início dos incêndios, as autoridades começam a fazer contas aos estragos. Os prejuízos são avultados e o pior de todos já não é recuperável. Sete pessoas perderam a vida. Esta sexta feira é dia de luto nacional.