Jornada Mundial da Juventude

Inês e Rodrigo participaram na JMJ de Madrid mas a experiência foi muito diferente

Quando se inscreveram na Jornada Mundial da Juventude, Inês e Rodrigo já eram namorados há dois anos. No entanto, optaram por viver esta aventura de forma individual e a experiência que tiveram foi bastante diferente.

Inês e Rodrigo participaram na JMJ de Madrid mas a experiência foi muito diferente
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Quando foi anunciado que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) iria ser em Madrid, Inês Jorge e Rodrigo Rosete não conheciam o evento. O casal tinha na altura 20 e 21 anos, respetivamente e decidiu aceitar o convite do Papa Bento XVI para se inscreverem no evento. Optaram, no entanto, por viver esta experiência individualmente: Inês participou pela diocese de Coimbra, Rodrigo pela de Aveiro.

Apesar de terem participado na mesma JMJ, a experiência foi bastante diferente. Inês fez a pré-jornada em Toledo, numa família de acolhimento que a apresentou à gastronomia e tradição, já Rodrigo foi para Córdoba, tendo ficado alojado num colégio de freiras com mais uma centena de participantes.

Mais de 10 anos depois desta experiência, o casal lembra as histórias que viveram neste evento, incluindo o momento em que se cruzaram, por acaso, numa rua de Madrid, no meio de dois milhões de pessoas.

Inês foi com o grupo da diocese de Coimbra à JMJ de Madrid, em 2011.
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Agora que a JMJ decorre em Portugal, Inês e Rodrigo têm pena de não poder ser família de acolhimento. A família cresceu: têm agora uma criança pequena e estão à espera da segunda filha. No entanto, conseguiram convencer os familiares a abrir a porta aos peregrinos.

Aceitar o convite e seguir para Espanha

Em 2010, nem Inês nem Rodrigo sabiam bem o que era uma JMJ. O evento já tinha uma dimensão significativa, mas em Portugal “não havia grande publicidade”. Mesmo perante o desconhecido, o casal decidiu colocar as mochila às costas e aventurar-se.

“Quando a JMJ vem a Madrid, houve um apelo para que os jovens portugueses fossem a Espanha porque era perto, porque devíamos ter uma presença forte. Na diocese de Aveiro houve uma força muito grande para que os jovens participassem”, conta Rodrigo.

Para Inês, o incentivo foi feito pelos pais. Começaram por lhe dizer que o evento “devia ser muito giro”, que era “perto” e, por isso, “deviam participar”. Com esta força, Inês acabou por inscrever-se na JMJ de Madrid.

Chegado o dia da partida, os autocarros de Aveiro foram em direção a Córdoba para realizar a semana da pré-jornada. Por outro lado, o grupo de Coimbra seguiu tinha como destino Toledo: “As nossa experiências são efetivamente diferentes, porque estivemos em sítios diferentes”, partilham.

Grupo de amigos de Rodrigo, no autocarro a caminho de Espanha.
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Enquanto Rodrigo ficou alojado num colégio de freiras, “juntamente com 100 pessoas”, Inês foi acolhida por uma família, em conjunto com uma rapariga que, na altura, não conhecia.

“Quando chegamos, chamaram alguns nomes, creio que terá sido atribuído à sorte. Ficávamos sempre aos pares, mas eles não colocavam pessoas conhecidas. Eu fiquei numa família de acolhimento: era um casal que tinha dois filhas, que já eram mais velhas e não viviam em casa”, recorda Inês.

Com a família de acolhimento, Inês ficou a conhecer a gastronomia espanhola e as tradições da região. O casal, que, na altura, teria perto de 60 anos, chegou a levá-la num passeio por Toledo, para visitar a cidade.

“Eles tiveram sempre o cuidado de ter tudo muito tradicional para nós. Tinham sempre o pequeno-almoço preparado com tomate moído e azeite. Um dia fizeram uma paelha gigante ao jantar, nunca tinha visto algo assim”, lembra Inês.

Um dos pequenos-almoços do grupo de Aveiro durante a JMJ de Madrid.
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A gastronomia também marcou a experiência de Rodrigo. O jovem conta que o pequeno-almoço que lhe deram, quando chegou a Espanha, foi gaspacho: “Lembro-me de pensar ‘o que estamos a fazer a beber sopa de tomate às 08:30?’ Essa parte foi muito gira”.

Em Córdoba, o calor não deu tréguas ao grupo de jovens portugueses e houve um dia em que as temperaturas chegaram aos 46ºC. Rodrigo lembra que, todos os dias, o grupo de Aveiro ia à piscina municipal, “porque estava mesmo muito calor nessa semana”.

Rodrigo com alguns elementos do grupo de Aveiro durante a pré-jornada, em Córdoba.
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A experiência de Inês motivou-a a convencer a sua familiares a receber grupos de peregrinos na edição deste ano da JMJ. O casal gostava de poder receber também peregrinos, mas a situação familiar não o permite.

Temos uma filha com dois anos e a Inês está grávida de seis meses. É muito difícil gerir a situação familiar com pessoas a entrar e a sair”, lamentam.

Chegar a Madrid: as trocas, um encontro inesperado e um roubo

Em Madrid, a experiência da JMJ foi diferente. Já não era só um grupo de peregrinos de Aveiro e Coimbra, respetivamente, mas sim milhões de jovens oriundos de todo o mundo. Rodrigo e Inês juntaram-se aos seus amigos mais restritos e partiram à descoberta do evento.

“Nós acordávamos de manhã, olhávamos para o conjunto de atividades que existiam planeadas para aquele dia e escolhíamos: ‘hoje queremos ir àquela catequese, queremos ir àquele workshop, queremos participar naquela atividade’. Sabíamos o metro que íamos apanhar, víamos onde íamos e planeávamos os nossos próprios dias.”

Um dos momentos de convívio dos peregrinos portugueses em Madrid.
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E num desses momentos planeados em separado – até porque a comunicação à época não era fácil nem barata –, Inês e Rodrigo acabaram por se encontrar no meio de Madrid e de dois milhões de pessoas.

“Quando eu estava a sair de uma atividade, no bairro de Santiago de Bernabéu, vi o Rodrigo parado à minha frente. Foi só aí que nos encontrámos”, conta Inês, lembrando que o plano sempre foi viverem a experiência com amigos e não juntos.

O calor em Espanha é uma das memórias que Rodrigo e Inês guardam desta aventura.
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O casal voltou a estar no mesmo sítio no aeródromo, onde se celebrou a vigília e a missa do envio, mas não estiveram juntos: “Nem sequer faço ideia onde o Rodrigo esteve. Lá era completamente impossível. Ou tínhamos a sorte de estar relativamente perto ou então não dava.

Além dos momentos religiosos, o tempo que passaram em Madrid permitiu-lhe conhecer também a cidade e os pontos turísticos. Falavam com os peregrinos de outros países que lhes ofereciam “umas bandeirinhas e uns brindes”. Rodrigo não sabia desta tradição e não foi preparado para oferecer nada, mas trouxe para casa pins espetados na mochila, autocolantes e “uma bandeirola de plástico”.

Por outro lado, Inês lembra ter perdido a maior parte das fotografias que tinha sobre o evento. Num momento de distração, a máquina fotográfica que tinha levado para as JMJ foi roubada – e, com isso, todas as fotografias que tinha tirado com a família de acolhimento durante a pré-jornada. Com o elevado número de pessoas na cidade, as autoridades alertam os peregrinos para terem cuidados extra com os seus bens pessoais, devido à possibilidade de furtos.

Apesar desta má experiência, Inês faz um balanço muito positivo do evento. “É um evento muito enriquecedor, não só em termos religiosos, mas também culturais. São atividades que abrem horizontes, que nos fazem conhecer pessoas novas, sítios novos de uma maneira completamente diferente. É algo que trazemos para a nossa vida enquanto família”, afirma.