Jornada Mundial da Juventude

JMJ: para quem tem pulseira VIP

A Jornada é, como diz no nome, para a juventude. No entanto, mesmo que o Papa se dirija exclusivamente aos peregrinos jovens católicos, os lugares à sombra, com cadeiras eram ocupados por políticos, figuras públicas e artistas portugueses.

JMJ: para quem tem pulseira VIP
Maria Madalena Freire

Dança, fado, cante alentejano, bandeiras de todo o mundo e um sol abrasador. No Parque Eduardo VII, juntaram-se centenas de milhares de peregrinos de todo o mundo para ver e ouvir o Papa Francisco. Mas, se calhar, não foi bem assim. O sol, a visão e o azar impediram muita coisa.

O labiríntico Parque Eduardo VII começou a ficar mais apertado a partir das 13:00. Já não era ensaio, naquele momento vinha o Papa, por isso as tensões estavam altas na organização.

No entanto, encontrava-se alegria e entusiasmo dos quatro cantos do mundo espalhados pelas secções do relvado.

A religião é uma, mas as vivências são várias. Porém, quando se encontram “parecem um”, segundo duas freiras de Los Angeles.

Freiras Los Angeles
Maria Madalena Freire

O Papa vem, já não é brincadeira e isso sentia-se à medida que o tempo ia passando. A alegria dos concertos que ia animando os peregrinos e distrai-los da espera que os separa do momento pelo qual anseiam há quatro anos.

Quanto mais passava o tempo, também mais os acessos eram restritos, até mesmo para os jornalistas. Os peregrinos já não davam espaço para circular, a não ser que se quissesse juntar às centenas de milhares para dançar e cantar.

“O Papa está a chegar!”, ouve-se.

E quando Francisco estava cada vez mais perto, a organização começou a apertar com os acessos de quem trabalhava e frequentava o Parque.

Caminhos que eram de meros metros, acabaram por ficar quilométricos.

Os próprios peregrinos ficaram “enjaulados” e, de repente, até havia jovens que não conseguiam chegar ao lixo para reciclar, porque os voluntários e os seguranças não deixavam.

O cântico e alegria dos peregrinos perseverava, mas a tensão aumentava. Enquanto se estendem, à “chapa” do sol, existe sombra mais acima no parque Eduardo VII na zona da calçada.

Mas a zona da calçada é só para quem tem pulseira e essa pulseira é para figuras políticas, económicas ou da cultura portuguesa. Convidados do evento, portugueses, têm cadeiras, à sombra e visão privilegiada para o palco.

Se a visão não era assim tão boa, tinham ecrãs mesmo em frente para não perderem um único momento da cerimónia.

Os peregrinos, na relva, ao sol, a vislumbrar o palco como uma luz ao fundo do túnel ou só conseguindo ver em ecrãs longínquos e altos.

“Viva ao Papa!”, gritavam repetidamente.

Francisco estava a chegar, fez-se uma via para que pudesse passar no Papa móvel, tudo para a sua maior segurança. Até snipers subiram andaimes.

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Os peregrinos começaram a amontoar-se e a perceber que era a sua oportunidade de ver Francisco, mesmo tendo lugares nos confins e periferia. Borbulhava entusiasmo e de repente, quando se vê o carro… este vira para cima e deixa mais de meio quilómetro de lágrimas peregrinas sem aceno.

Entre concertos, a cerimónia de acolhimento, as linhas ficaram confusas para quem anda entre os peregrinos. Porque querem cá estar, mas a organização inibe-os de passar ou circular.

As bandeiras voam alto, o Papa está no mesmo recinto que eles e, tal como disse Vinto, da Guiné Bissau, é uma alegria “só aqui estar”.

Para além disso, Vinto foi com uma missão: abençoar a época de 2023/2024 para o Sporting Clube de Portugal.

Guiné-Bissau
Maria Madalena Freire

Mas, à medida que o evento ia decorrendo, era visível o desagrado. Muitos peregrinos questionavam voluntários “porquê?”. A maior parte da organização não sabia o que se ia passar, exemplo de Maria, voluntária da JMJ que vive em Portugal há três anos, onde fez mestrado em investigação biomédica.

“Não sei… não nos disseram nada”, lamentou.

Foi dança, fado, cante alentejano e a cruz a passar pelo Parque Eduardo VII até Francisco.

Desde as 13:00 que o recinto foi enchendo e a organização foi ficando cada vez mais confusa. Mas o que fica para os peregrinos?

“O sorriso do Papa, é uma honra estar aqui”, disse um peregrino em inglês arranhado.

Quando Francisco se levantou, o Parque tremeu. Quando falou, o silêncio foi tanto que até se ouviam os aviões que, até aí, apesar de muitos, não tinham feito um único som.

No seu discurso, o Papa reserva agradecimentos à organização e a quem possibilitou que a JMJ acontecesse.

“Há espaço para todos, na Igreja. Entram todos”, disse Francisco.

E os peregrinos repetem “todos, todos, todos”.

A JMJ quer acolher todos, seja ao sol, à sombra, deitados, ou sentados.

A organização confusa não retirou o sorriso lacrimejado nos rostos das milhares de centenas que estiveram com o Papa Francisco em Lisboa.