Operação Lava Jato

Deputado casado com fundador do site The Intercept diz ter recebido ameaças de morte

O The Intercept é um portal de jornalismo de investigação liderado por Glenn Greenwald.

David Miranda
David Miranda
Ueslei Marcelino

O deputado brasileiro David Miranda, marido do jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept, recebeu ameaças de morte após a revelação das polémicas mensagens sobre a operação Lava Jato, revelou esta segunda-feira a assessoria de imprensa do político.

À agência Lusa, a assessoria de imprensa de David Miranda, filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), declarou que as ameaças, contra o deputado e a sua família, tiveram início após o site The Intercept ter divulgado, na semana passada, mensagens que colocam em causa a imparcialidade da operação Lava Jato, acrescentando que as provas, em formato de e-mail, foram encaminhadas para a Polícia Federal na última terça-feira.

"Sim, o deputado David Miranda tem recebido ameaças de morte. Já enviou [as provas] à Polícia Federal. Agora precisamos de rezar para serem investigadas", afirmou à Lusa a assessoria de imprensa do deputado.

Em 13 de março deste ano o político já tinha aberto uma queixa-crime na Polícia Federal brasileira devido a outro episódio de ameaças, mas por diferente motivos.

As intimidações surgiram depois de David Miranda ter assumido a vaga do deputado e ativista brasileiro Jean Wyllys (PSOL) na Câmara dos Deputados, avança o portal de notícas G1.

Jean Wyllys, deputado federal do Rio de Janeiro, anunciou, em 24 de janeiro, que ia desistir do novo mandato e deixar o Brasil, após receber ameaças de morte, situação que se arrasta desde o homicídio da vereadora Marielle Franco, também pertencente ao partido de Wyllys e Miranda.

O The Intercept é um portal de jornalismo de investigação liderado por Glenn Greenwald, jornalista a quem o ex-analista norte-americano Edward Snowden revelou os programas de espionagem da Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA, na sigla em inglês).

Segundo o Intercept, conversas privadas revelam que o ex-juiz, e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, sugeriu ao procurador e responsável pelas investigações da Lava Jato, Deltan Dallagnol, que alterasse a ordem das fases da operação, deu conselhos, indicou caminhos de investigação e deu orientações, isto é, teria ajudado a acusação, o que viola a legislação brasileira.

Moro ganhou notoriedade como juiz da operação Lava Jato, por condenar empresários, funcionários públicos e políticos de renome como o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A acusação contra Lula da Silva, condenado por Moro a nove anos e seis meses de prisão num caso sobre um apartamento de luxo em São Paulo supostamente recebido como suborno da construtora OAS, foi citada pelas reportagens do Intercept.

Segundo aquele portal de investigação, as mensagens indicam que os próprios promotores da Lava Jato tinham sérias dúvidas sobre a qualidade das provas contra o ex-Presidente neste processo.

A condenação retirou o político brasileiro da eleição presidencial realizada em 2018, quando era o candidato favorito da população, segundo as sondagens realizadas à época.

Noutras conversas reveladas pelo Intercept, um grupo de promotores da Jato Lava discute formas de impedir uma entrevista que Lula da Silva deveria dar ao jornal Folha de São Paulo alegando que a mesma poderia beneficiar o Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições.

O Intercept enfatizou que fará ainda outras reportagens e que todo o material divulgado vem de uma fonte anónima que os contactou e forneceu mensagens trocadas na rede social Telegram, vídeos, fotos e arquivos de áudio.

Lusa