Desde que foi anunciada a atribuição ao Qatar da organização do Campeonato do Mundo de 2022, há cerca de 12 anos, que o país do Médio Oriente tem sido alvo de críticas e contestação, sob as mais variadas formas.
Das milhares de mortes de trabalhadores durante a construção dos estádios que vão acolher o Mundial às denúncias de violações dos direitos humanos, ganhou força uma onda global de contestação aos organizadores do Mundial.
As vozes da contestação
Entre as figuras do universo desportivo que se manifestaram contra o Mundial do Qatar, destaca-se o antigo internacional francês Éric Cantona, não só pelo mediatismo que lhe é associado, mas também pela dureza e veemência das críticas.
Numa mensagem publicada nas redes sociais, Cantona considerou o torneio uma “aberração ecológica” e garante que não verá “um único jogo deste Mundial”.
"Primeiro, o Qatar não é um país de futebol. Não há fervor, não há paixão. (…) Depois, porque é uma aberração ecológica, com o ar condicionado nos estádios… que loucura, que estupidez! Mas, acima de tudo, o horror humano, com as milhares de mortes durante a construção dos estádios, só para entreter a plateia durante um mês… e ninguém quer saber”, lamentou Cantona.
Da Alemanha insurgiram-se duas vozes de peso no panorama futebolístico germânico, com o selecionador nacional Hansi Flick, que vai estar no Qatar, à cabeça.
Em declarações ao jornal Frankfurter Rundschau, o treinador lamenta que este não seja um Mundial “para os adeptos”.
“[Tenho amigos] que gostariam de viajar para o Qatar, mas que não o farão por diversas razões. O futebol deve existir para todos. É por isso que digo que este não é um Mundial para os adeptos”, reiterou o selecionador alemão.
Quem também fez questão de dirigir críticas à organização deste Campeonato do Mundo e à FIFA foi o antigo internacional alemão Philipp Lahm, campeão mundial em 2014.
Lahm, que desempenha atualmente funções na federação de futebol alemã, explicou porque não integrará a comitiva germânica na viagem para o Qatar.
“Prefiro acompanhar o torneio em casa. Os direitos humanos deveriam ser a principal preocupação quando é atribuída a organização de um torneio. Se um país que tem um dos piores registos nesta matéria é o escolhido, começas a questionar os critérios usados para a decisão”, afirmou o ex-futebolista, numa entrevista à revista alemã Kicker.
Philipp Lahm disse também esperar que tal decisão “não se volte a repetir no futuro”.
Os boicotes ao Mundial, do “luto” dinamarquês à ausência de ecrãs gigantes
Com maior ou menor simbolismo, têm-se sucedido as críticas àquele que é considerado por muitos o mais polémico Mundial de sempre.
Peso simbólico foi o que não faltou à forma de protesto escolhida pela Hummel, marca responsável pela produção dos equipamentos da seleção da Dinamarca para o Mundial.
"Esta camisola carrega uma mensagem. Não queremos ser visíveis durante um torneio que custou a vida a milhares de pessoas. Apoiamos a seleção dinamarquesa a todos os níveis, mas não o Qatar como organizador", escreveu a marca alemã na rede social Twitter.
Em França, seis cidades, entre as quais a capital Paris, decidiram cancelar as habituais transmissões de jogos em ecrãs gigantes.
Além da “cidade luz”, também Marselha, Lille, Bordéus, Estrasburgo e Reims não terão as habituais fan zones destinadas aos adeptos, uma forma de contestação que se deverá alastrar a Londres.
Na Noruega, o centenário Tromsø, um dos principais clubes do futebol norueguês,emitiu em dezembro do ano passado um comunicado em que reiterava a intenção de boicotar o Mundial 2022, devido aos relatos de “escravatura da era moderna” e aos “números alarmantes de mortes”, entre outras preocupações.
O emblema norueguês apelava ainda ao apoio da Federação nacional a este boicote, algo que não se veio a concretizar.
A fase final do Mundial vai ser disputada entre 20 de novembro a 18 de dezembro por 32 seleções. Portugal integra o grupo H, com Uruguai, Coreia do Sul e Gana.