Ontem Já Era Tarde

Paulo Baldaia: "Não há traição nenhuma de Vítor Bruno a Sérgio Conceição"

Com uma carreira jornalística ligada à política e economia, passando por várias rádios e jornais, Paulo Baldaia é o primeiro a dizer que jamais poderia ser jornalista desportivo devido à forma apaixonada com que vive o seu clube, o FC Porto: "No futebol sou mesmo religioso, sou mesmo fanático. Não há equilíbrio nenhum."

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Paulo Baldaia confessa a preocupação pelo atual momento desportivo dos dragões, após a eliminação da Taça de Portugal frente ao Moreirense, mas acredita que há um processo de mudança em que estes resultados podem acontecer.

Estamos no ano zero do novo FC Porto, tudo o que Pinto da Costa conquistou é inigualável e isso pesa sempre sobre quem vem a seguir, mas esse peso tem de ser vivido com tranquilidade.”

Não esconde a admiração por Sérgio Conceição, mas considera que Vítor Bruno fez bem em assumir o comando técnico dos dragões:

"O meu treinador é Sérgio Conceição, sou mesmo fã de Conceição, gosto muito dele e deu ao FC Porto algo que o clube não teria conseguido sem ele, mas não partilho da opinião dele que tenha sido traído por Vítor Bruno [anterior técnico adjunto de Conceição]. Então, o atual treinador do FC Porto não é um profissional? Não tem de fazer pela vida dele? Convidaram-no para ser treinador principal e ele ia dizer que não? Mas porque carga de água?"

“Com o Pepe a jogar, o Benfica não teria dado 4-1 ao Porto e não sei se o Sporting ganhava”

Foram muitas as mudanças no FC Porto da última época para esta. André Villas-Boas venceu tornou-se presidente, Vítor Bruno é o novo treinador e saíram vários jogadores importantes. Um deles, o capitão Pepe.

Paulo Baldaia não tem dúvidas de que Pepe ainda seria um jogador importante na equipa:

“O FC Porto tem belíssimos centrais, mas comete muitos erros na defesa porque falta alguém com essa inteligência e conhecimento do jogo. Isso resolvia-se com o Pepe ainda a jogar mais um ano. Desconfio que com o Pepe a jogar, o Benfica não teria dado 4-1 ao FC Porto e não sei se o Sporting ganharia.”

“Apoiei o Benfica contra o Marselha, o da mão do Vata. Foi uma vez sem exemplo”

Sem rodeios, sem querer parecer politicamente correto, Paulo Baldaia diz que nunca apoia o Benfica, rival do seu FC Porto, nem mesmo nas competições europeias. Mas houve uma exceção.

A 18 de abril de 1990, o Benfica recebeu o Marselha na segunda mão das meias-finais da Taça dos Campeões Europeus. Baldaia já trabalhava como jornalista em Lisboa e decidiu ir ao Estádio da Luz.

“Estava em casa quando ouvi na TSF o então presidente do Marselha, Bernard Tapie, dizer que o jogo ia ser fácil porque os portugueses só serviam para construir as casas dos franceses e as portuguesas para as limpar.”

O orgulho nacional, ferido pelo dirigente do clube francês, falou mais alto do que a rivalidade futebolística: “Meti-me na mota, cheguei a Luz, comprei um bilhete e apoiei o Benfica.”

As águias acabariam por vencer o jogo com um golo marcado com a mão, que passou despercebido ao árbitro, apontado pelo avançado Vata. “Hoje não faria o mesmo”, confessa Baldaia.

“Provavelmente, escrevia um tweet a dizer para o Tapie estar calado porque não percebia nada disso. Mas nesse dia apoiei o Benfica. Foi uma vez sem exemplo.”

“Dos 2 milhões de pobres em Portugal, metade trabalha. As pessoas estão revoltadas e ficam disponíveis para as ideias do extremismo”

Enquanto jornalista e analista político, Paulo Baldaia não esconde a distância que o separa das ideias de partidos como o Chega, mas encontra uma explicação para o crescimento da extrema-direita.

"Dos dois milhões de pobres em Portugal, metade trabalha. Ou seja, as pessoas trabalham e continuam pobres. Estão fartas da sua situação.”

Esse fator, segundo Baldaia, leva a que uma parte do eleitorado seja mais permeável a mensagens de partidos como o Chega.

“Esse não é o caminho, vai dar asneira da grossa, mas é um reflexo das dificuldades. As pessoas trabalham uma vida inteira para dar melhores condições aos filhos. Depois, esses filhos veem o que os pais passaram e também eles continuam a ser pobres. Chegam a um ponto em que não acreditam nos políticos, em que acham que são todos mentirosos e revoltam-se.”