O inspetor que investigou as contas de José Sócrates diz que o ex-primeiro-ministro raramente sabia quanto tinha no banco e recebia dinheiro de forma sistemática, sempre que o saldo ficava negativo. O funcionário do fisco é a primeira das centenas de testemunhas chamadas a julgamento pelo Ministério Público.
O relatório que traz na mão tem quase 10 anos, mas serve para lhe avivar a memória sobre a conta da Caixa Geral de Depósitos ou, como lhe chama agora, a conta conhecida de José Sócrates.
Inspetor da Autoridade Tributária, destacado no Ministério Público, Pedro Cardigos vem dizer em tribunal que Sócrates não tinha noção dos próprios saldos bancários.
Diz que, de forma sistemática, sempre que o dinheiro estava a acabar, entrava mais dinheiro.
Fala de sucessivos empréstimos e de dinheiro enviado pela mãe. Teria origem na venda de casas ao amigo do filho, Carlos Santos Silva.
Tem registadas transferências feitas pelo primo e até um cheque de 15 mil euros do motorista para José Sócrates.
Pedro Cardigos é o primeiro de um batalhão de inspetores da Autoridade Tributária. Há uma década ajudaram o Ministério Público a investigar. Agora vêm ajudar os procuradores a provar a acusação.
O Ministério Público entende que o dinheiro é parte dos 23 milhões de euros acumulados na Suíça por Carlos Santos Silva. O dinheiro seria, na verdade, a fortuna escondida do antigo primeiro-ministro. A origem seriam três atos de corrupção para favorecer o Grupo Lena, Vale do Lobo e o Grupo Espírito Santo.
Ricardo Salgado continua ausente do julgamento. Depois de insistir que o Alzheimer do antigo banqueiro impede qualquer tipo de defesa, os advogados fazem chegar uma sentença às juízas.
É do Tribunal de Castelo Branco. O despacho arquivou um processo depois de comprovado que o arguido tinha uma demência definitiva e irreversível.