Orçamento do Estado

Opinião

"Tudo é rico neste santo país, até os salários mínimos já conseguem tributá-los"

Tiago Caiado Guerreiro alerta para a necessidade urgente de "desonerar sucessivamente o imposto sobre as pessoas". O fiscalista sublinha que "o rendimento que fica atualmente para as pessoas fazerem face a todas as despesas da vida é muito pouco".

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Tiago Caiado Guerreiro considera que o desagravamento fiscal é urgente não só para os jovens, mas para toda a população. "Nós temos uma fuga dos jovens de Portugal, mas temos uma fuga também das pessoas de meia idade", alerta num debate na SIC sobre o IRS Jovem, uma das medidas que o Governo quer implementar já no próximo ano para apoiar os portugueses entre os 18 e os 35 anos.

"Nós começamos a tributar as pessoas com taxas elevadíssimas, com muito pouco rendimento. Os outros países até têm taxas elevadas, mas, por exemplo, alguns aplicam-nas a partir de 300 mil euros. Aqui aplica-se a partir de 30 e tal mil euros. Quer dizer, tudo é rico neste santo país, até os salários mínimos já conseguem tributá-los. Atenção que o mínimo é considerado intangível, é o mínimo de sobrevivência, como é que têm coragem de aplicar IRS nisso?"

O fiscalista questiona a situação atual e destaca a urgência em desonerar sucessivamente o imposto sobre as pessoas.

"O rendimento que fica atualmente para as pessoas fazerem face a todas as despesas da vida é muito pouco e uma coisa que tem acontecido é que nós pagamos cada vez mais impostos, mas depois a seguir pagamos cada vez mais pelos serviços públicos.

Nós temos as autoestradas mais caras da Europa. Depois, o sistema público de saúde não funciona, temos que temos que ir ao sistema privado. Temos nos supermercados subidas verdadeiramente impressionantes e já agora os supermercados são muito mais caros cá em Portugal, do que são na Alemanha ou que são em Madrid".

Caiado Guerreiro diz que "há qualquer coisa que não funciona neste país" e que a solução passa por "descer progressivamente o IRS, também para as outras pessoas todas, isso é absolutamente fundamental".

A proposta, já aprovada pelo Governo, estabelece taxas entre os 4,42 e os 15%, válidas para rendimentos até ao oitavo escalão, ou seja, para todos os jovens que ganham até 3.000 euros brutos por mês. Entretanto, o Conselho de Finanças Públicas já alertou que o IRS Jovem poderá ter um impacto negativo no Produto Interno Bruto, com um regresso ao défice dentro de dois anos. O Governo já reagiu e insiste que não abdica da medida de apoio aos jovens.

Na opinião de Caiado Guerreiro, o Governo precisa de estender esse desagravamento fiscal a todo o país e ironiza:

"Se nós queremos ter um sistema que funcione, se não o país não funciona porque simplesmente toda a gente sai de cá. Qualquer dia só mesmo as pessoas velhinhas ou então o aeroporto estar cheio de mais é que as pessoas não fogem daqui. Quando tivermos TGV, até se conta a anedota: 'É da maneira que os portugueses saem mais depressa, o problema depois é que não têm clientes para voltar para cá".