Sismo na Turquia e Síria

PKK suspende operações na Turquia na sequência do sismo

"Decidimos não realizar nenhuma iniciativa até que o Estado turco nos ataque", disse Cemil Bayik, alto funcionário do movimento. O Exército turco tinha intensificado nos últimos meses as suas operações contra o PKK.

PKK suspende operações na Turquia na sequência do sismo
ABIR SULTAN

O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) decidiu esta sexta-feira suspender temporariamente suas operações na Turquia na sequência do terramoto junto à fronteira com a Síria e que fez mais de 20.000 mortos em ambos os países.

"Parem as operações nas cidades da Turquia. Decidimos não realizar nenhuma iniciativa até que o Estado turco nos ataque", disse Cemil Bayik, alto funcionário do movimento, citado pela agência Firat, próxima do PKK, que é considerado uma organização terrorista de Ancara.

"A nossa decisão será válida até que a dor de nosso povo seja aliviada e as suas feridas cicatrizadas", acrescentou o responsável, sem especificar uma data.

O Exército turco tinha intensificado nos últimos meses as suas operações contra o PKK, tanto no sudeste do país como no norte do Iraque, ambos de maioria curda, desde que o cessar-fogo foi rompido entre o Governo e o grupo armado, em julho de 2015.

Bayik destacou o "grande desastre" provocado pela série de sismos que ocorreram e afirmou que a população "está em circunstâncias muito difíceis nas áreas afetadas".

“Se não forem resgatados o mais rápido possível, podem morrer de frio”

"Em particular, as pessoas sofrem muito mais por causa das políticas aplicadas pelos invasores e Estado turco assassino", denunciou.

Cemil Bayik transmitiu igualmente condolências às famílias das vítimas e lamentou que "milhares de pessoas ainda estejam sob os escombros".

"Estamos no inverno. Está a chover e está frio. Se não forem resgatados o mais rápido possível, podem morrer de frio. Todos devem mobilizar todos os seus recursos. Todos devem mobilizar-se para salvar nosso povo. Todos, especialmente as instituições democráticas", destacou.

"Infelizmente, terramotos acontecem em todo o mundo. O importante é que muitos países estão a tomar precauções contra sismos para sofrer menos danos e perdas", explicou o alto funcionário do PKK, que disse que na Turquia nenhuma medida é tomada.

Nesse sentido, lembrou que o governante Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), do Presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, "está no poder há 20 anos, a gerir o Estado".

“Deveria ter tomado precauções, mas o AKP não agiu. Não agiu em favor da população. Há anos que cobram impostos para prevenir danos maiores nos terramotos, mas ninguém sabe o que aconteceu com eles”.

"O Estado turco usou todos os meios para massacrar o povo curdo no Curdistão. Gastou milhões de dólares nisso", denunciou o responsável, acusando: "durante o seu mandato, (o AKP) cometeu roubo, corrupção e saques e tornou os ricos cada vez mais ricos e o povo cada vez mais pobre".Bayik deu ainda o exemplo do Japão:

"Não há tantos edifícios a desabar e não há tantas mortes porque eles abordam o risco com seriedade e tomam precauções. É por isso que não há tanta dor quando ocorre um abalo".

"Se Ancara tivesse tomado "precauções", não haveria “milhares de prédios destruídos”

Enfatizou ainda que, se Ancara tivesse tomado "precauções", não haveria "milhares de prédios destruídos e cidades e vilas arruinadas".

Por outro lado, criticou a decisão do Parlamento de aprovar o estado de emergência por 10 meses nas 10 províncias afetadas pelos sismos, muitas das quais abrigam uma significativa população curda, e destacou que o objetivo é "cobrir até o terremoto".

"O Governo quer reprimir a dor e as lágrimas do povo para que a dor e o choro não cheguem mais longe", argumentou, acrescentando:

"Mobilizaram a imprensa para que ninguém saiba o que está a acontecer e estão a desenvolver propaganda para enganar as pessoas do mundo".

"Escondem muita gente. Fazem parecer que estão a ajudar as pessoas em todos os lugares, mas é mentira. Os media independentes revelarão as suas mentiras. Querem evitar que as pessoas enviem ajuda às áreas afetadas e querem evitar a cooperação entre os povos", afirmou.

Acusou ainda o Governo de querer "colocar a ajuda enviada pelo povo e de outras partes do mundo ao seu serviço".

"Os curdos e os turcos devem continuar a cooperar de todas as maneiras possíveis e não permitir que o governo atrapalhe", disse Bayik, segundo a agência EFE, que cita informações divulgadas pela agência curda de notícias ANF, próxima do grupo armado.