Depois de uma maratona de quase 12 horas de audições na comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP, com Frederico Pinheiro primeiro e, horas depois, Eugénia Correia a darem as suas versões aos deputados, esta tarde de quinta-feira será a vez do ministro João Galamba. Uma audição “importante”, diz Ricardo Costa. E porquê?
“[Ontem] ficámos a saber mais sobre o caos e a degradação do que se conseguiu passar num ministério pequeníssimo, que é o das Infraestruturas. (…) Não só houve uma situação gravíssima naquela noite de 26 de abril, como depois ninguém conseguiu ter a mínima cabeça fria na noite de dia 26, no seguinte, e no sábado na conferência de João Galamba”, defende o jornalista.
Mais. A versão do ex-adjunto do ministro “bate certo com a anterior dele, mas foi extraordinariamente detalhada, nomeadamente na chamada para o Serviço de Informações de Segurança (SIS)”.
Acontece que, depois, na audição da chefe de gabinete, e numa “versão que também me parece credível, várias coisas não batem certo", não só em relação ao que foi descrito pelo ministro como também “entra numa situação de choque com um comunicado que as suas colegas de gabinete enviaram horas, que ela própria assina mas diz que não sabia que existia”.
Estas versões diferentes tornam “ainda mais importante” a audição do ministro. A verdade é que, “ao fim destes dias todos, no próprio Ministério não conseguem ter uma única versão e isso é assustador e preocupante. (…) Não conseguiram ter controle numa situação de crise que eles próprios criaram e 15 dias depois ainda não conseguem mostram frieza sobre uma situação que já passou”.
Uma questão que terá de ser esclarecida é deste logo quem contactou, afinal, o SIS. Porque, salientou Ricardo Costa, ontem percebemos “duas coisas, uma muito grave”.
“Toda a abordagem do SIS ao Frederico Pinheiro, os vários telefonemas, as frases ameaçadoras, o que ouvimos foi extraordinariamente preocupante e detalhado. [Mas também] do lado da chefe de gabinete tivemos uma clarificação: Eugénia Correia assume a responsabilidade, diz que é a chefe de gabinete que faz o circuito de chamada do SIS”, o que contradiz a versão do ministro que recorde-se, disse ter sido ele a fazê-lo.
O que Ricardo Costa prevê que o ministro das Infraestruturas explique ao deputados é que disse ter sido ele, no sentido de ter sido “o meu gabinete”. Esta, diz o jornalista, “é a única maneira de não entrar em choque total”. Além disso, “não sabemos se não está ela [Eugénia Correia] a fazer aquele papel de se sacrificar pelo caos coletivo”, como pode acontecer na política.
Mas mesmo que a audição de João Galamba seja esclarecedora, “há uma coisa que já não vai ser apagada: a degradação das instituições e de um ministério em particular que ainda por isso arrastou os serviços de informação num ato inédito, desnecessário e desproporcional. Não era preciso, e tudo isto é provocado por um ministério que não me parece ter as condições mínimas de funcionamento. E é isso que torna a situação extremamente complicada”.
"Galamba fala depressa demais e sem pensar"
Questionado sobre se irá o ministro aguentar pressão, Ricardo Costa não tem dúvidas: “Hoje vai ter de aguentar. A partir do momento em que decidiu ficar no Governo, ficou preso ao Governo e o Governo a Galamba. Aconteça o que acontecer vai ficar, agora vai ter que governar numa situação muito difícil”.
Mas atenção, “há uma investigação do Ministério Público em curso e se concluir por práticas ilegais de Galamba, entramos numa situação diferente”.