David Neeleman acusa o Governo de ingerência e pressão política na TAP. Na resposta, por escrito, enviada à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), o antigo acionista da empresa nega que os fundos da Airbus tenham servido para financiar a entrada na TAP. Ao Parlamento chegaram também as respostas de Antonoaldo Neves e Fernando Pinto, os dois ex-presidentes executivos da empresa.
O antigo acionista da TAP respondeu a dezenas de perguntas dos deputados da CPI à TAP. Num documento com 35 páginas, critica o Governo por estar obcecado pela nacionalização, acusando-o também de interferências na gestão da TAP.
O ex-acionista que saiu da empresa em 2020 com 55 milhões de euros não poupa críticas ao Governo.
"Obsessão pela nacionalização, inabilidade política ou má gestão do Governo, só assim se pode compreender que o ministro, num debate no Parlamento, tenha dito, com grande vigor que a TAP estava falida", indica Neeleman.
O ex-acionista acredita que se tivesse sido a gestão da TAP a acompanhar e a intervir nas negociações com a Comissão Europeia, que teria sido possível obter outro resultado que não implicasse uma injeção do Estado superior a 3 mil milhões de euros.
Pedro Nuno Santos
No documento, David Neeleman acusa o ex-ministro Pedro Nuno Santos de pressão política para que o Governo recuasse na decisão de atribuir prémios em 2019.
"Foram pressões muito duras através de mensagens de telemóvel e reuniões com o próprio ministro das Infraestruturas. Felizmente, o CEO teve coragem para não ceder às pressões e a Comissão Executiva acabou por pagar as remunerações variáveis, que eram devidas"
Fundos da Airbus
David Neeleman nega que os fundos da Airbus tenham sido usados para financiar a entrada do ex-acionista na TAP e diz que o dinheiro da compra dos 53 aviões NEO foram colocados na TAP como capital para ficar por 20 anos e nunca foram levantados.
Garante ainda que, quando o Governo de António Costa tomou posse, o então ministro das Finanças, Mário Centeno, e o das Infraestruturas, Pedro Marques, souberam e concordaram com o plano de recapitalização da TAP com o dinheiro adiantado pela Airbus.
David Neeleman diz que os dois ministros assinaram um memorando de entendimento onde confirmavam a concordância com o novo projeto estratégico para a TAP e reconheciam a capitalização que estava em curso.
Mas Centeno e Pedro Marques disseram na comissão que só souberam do negócio através dos meios de comunicação social.
Ex-CEO da TAP, Antonoaldo Neves
O ex-presidente executivo da TAP, Antonoaldo Neves, defendeu o negócio que, além da compra de novos aviões, obrigou a cancelar uma encomenda que já tinha feito de 12 A350.
Na resposta que enviou ao Parlamento, Antonoaldo Neves também diz acreditar que a solução acordada com Bruxelas não foi a melhor para a TAP.
Sobre o antecessor, Fernando Pinto, explica que foi um valioso conselheiro para a comissão executiva. Por isso, valeu-lhe o contrato de 1,6 milhões de euros, o mesmo que ganhava enquanto CEO como o próprio também explica po escrito.
Questionado pelos deputados, Fernando Pinto explicou que o valor se justifica pelo facto de prestar serviços em exclusividade para a TAP e pela obrigação de não concorrência.