A Airbus pediu para ver o acordo de venda da TAP a David Neeleman, informação confidencial do Estado português. Foi assim que a Parpública descobriu o “esquema” usado pelo empresário para comprar a transportadora, os chamados Fundos Airbus.
O relatório preliminar da comissão de inquérito à gestão da TAP, com 180 páginas, dedica vários capítulos à venda da companhia aérea, feita em 2015 pelo então Governo do PSD, detalha a linha do tempo antes do fecho do negócio e revela a troca de correspondência entre o consórcio comprador de David Neeleman e a Parpública, o representante do acionista Estado.
A principal novidade é uma carta, com data de 19 de agosto, onde a Atlantic Gateway pede à Parpública que partilhe com a Airbus os termos do acordo de compra da TAP, assinado em junho.
Tratava-se de informação confidencial do Estado português e a perplexidade da Parpública fica evidente na resposta: “Gostaríamos muito que detalhassem as razões específicas pelas quais a Airbus precisa de aceder ao acordo”.
Terá sido assim, depois deste estranho pedido do comprador, que a Parpública descobriu o mecanismo usado por David Neeleman para comprar a TAP que implicava, afinal, uma espécie de financiamento indireto da Airbus que, um mês depois, enviou uma carta com explicações.
“Os fundos da Airbus são apresentados como ‘upfront cash credit’. Não há referências à capitalização da TAP. Há referências ao contrato para compra de aviões da família A320neo”.
Só em outubro é que a Parpública pede esclarecimentos sobre o caso à Atlantic Gateway, que terão sido suficientes. O negócio foi fechado a 12 de novembro, já o Governo tinha caído e estava em gestão corrente.